domingo, 12 de fevereiro de 2017


Horizonte Brasileiro

 

                            Jorge Luiz Calife, tradutor no Brasil de vários dos livros de Arthur C. Clarke escreveu a este e convenceu-o a ir além de 2001, Uma Odisséia no Espaço (a oitava edição que tenho é de 1983, sobre original americano de 1968), o que veio a dar em mais três livros: 2º) 2010, Uma Odisséia no Espaço II (muito mal filmado), 3º) 2061, Uma Odisséia no Espaço III (não filmado), 4º) 3001, A Odisséia Final (em preparação de filmagem, segundo dizem). Para nossa maior satisfação deveriam manter o original (que já assisti 12 vezes), de Stanley Kubrick, já falecido, e filmar os demais em grande estilo.

                            Calife escreveu então por seu lado dois livros, ambos publicados pela Nova Fronteira: 1º) Padrões de Contato (Rio de Janeiro, 1985) e 2º) Horizontes de Eventos (Padrões de Contato II) (Rio de Janeiro, 1986), ambos excepcionais, de uma plasticidade incrível, que dariam filmes formidáveis, apaixonantes mesmo, se filmados por gente competente.

                            Os brasileiros, sempre descuidados e considerando (erradamente) a ficção dita científica arte menor, se descuidaram dela e produziram obras sofríveis, que a gente lê empurrada, contra a vontade, só para ter a satisfação de terminar (como disse Grouxo Marx, “tive duas satisfações quando peguei seu livro: uma ao abrir e outro ao fechar. Um dia ainda pretendo lê-lo”). Menos o Calife, que ombreia com os melhores do mundo, se não os ultrapassa.

                            Espanta-me, sobretudo, que os estrangeiros, passados 18 e 17 anos do primeiro e do segundo, não tenham comprado os direitos de filmá-los e, mais ainda, que não o tenham feito, nem o pretendam fazer, ao que eu saiba.

                            Vejo que há realmente uma repulsa estrangeira, que advém do preconceito mais sórdido para com as coisas brasileiras – um travamento malsão, que busca obstaculizar a todo custo. Compreensível é, pois vem do medo de o Brasil liderar uma civilização divergente, que inclua outros, os despossuídos de expressão.

                            Entrementes isso leva a faltas que desaprovamos fervorosamente e que nos aborrecem bastante.

                            Vitória, domingo, 13 de abril de 2003.

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