quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


Glória a Alexandria

 

                            No livro de Giovani Reale, História da Filosofia Antiga, volume V, São Paulo, Loyola, 1995, p. 14, está escrito: “Lembremo-nos de que em Alexandria todas as correntes filosóficas que caracterizaram a última fase do pensamento antigo: 1) neopitagorismo, 2) o médio-platonismo, 3) o neoplatonismo, 4) a filosofia mosaica de Filo, o Hebreu, ou seja, a tentativa de mediação entre a teologia hebraica e filosofia grega, 5) a escola catequética, ou seja, a primeira tentativa de elaboração filosófica do pensamento, 6) enfim, os grandes comentários a Aristóteles da escola de Amônio”.

                            Alexandria foi fundada em 332 a.C. sobre a antiga cidade faraônica de Rhakotis, existente desde 1500 a.C., e a Biblioteca de Alexandria por Ptolomeu I Soter em 290 a.C., tendo sido incendiada em quatro ocasiões diferentes por meliantes (como os americanos fizeram ou permitiram fazer com a biblioteca de Bagdá, na recente Guerra do Iraque): em 48 a.C foi o primeiro incêndio, devido ao ataque incendiário à cidade por ordem de Júlio César; em 272 por ordem do imperador romano Aureliano; em 391 pelo imperador Teodósio, de Constantinopla; e em 640 pelos muçulmanos do Califa Omar I.

                            Tomemos a data mais antiga, de 290 a.C., e contemos que tenha existido até terminar definitivamente em 640 d.C. com o ataque árabe - serão 290 + 640 = 930 anos. No auge a BA teve até 700 mil volumes e era única, embora não existisse somente ela, pois outras havia, mas sendo chamada única no sentido de sua importância. Não é como agora, em que existem tantas (às quais é dada tão pouca importância). Naquele tempo ela era um farol de fato, maior que o Farol de Alexandria, uma das maravilhas do mundo antigo, mandada erguer por Ptolomeu II, filho do anterior.

                            O que é uma biblioteca existir por quase mil anos?

                            Ninguém sabe, porque não aconteceu antes, nem talvez venha a acontecer, dado que há tanta gente disposta a queimar livros neste vil mundo humano. Com todo tipo de tropeço e absurdo pelos quais passou, a Biblioteca (e Universidade) de Alexandria viveu por quase mil anos, o que é uma façanha extraordinária. Eis aí um acontecimento realmente memorável, que já está na hora de comemorar e de memorizar em pedra, nalgum sítio belo, sob a forma de uma universidade que tenha a mesma forma dela, porém contemporanizada quanto aos conceitos e à capacidade de produzirorganizar, contemporânea necessariamente.
                            Vitória, segunda-feira, 05 de maio de 2003.

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