quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017


Descristianização

 

                            Já mostrei que foi a cristianização da Europa a responsável primordial pela invenção da atual potência conjunta a partir da Idade Média (e foi a introdução da Reforma que impediu durante quase 500 anos a junção dos países numa entidade supranacional, a agora Europa dos 15, a CE, Comunidade Econômica).

                            Mostrei também que a cristianização do Japão (muito frágil a partir da chegada dos jesuítas, impedida até a Reforma Meiji em 1868, que abriu os portos após 250 anos de fechamento), finalmente iniciada para valer com a derrota em 1945, estabeleceu as bases da atual potência mundial. Mais recentemente na Ásia, ao seguirem o caminho japonês de aceitar a existência do povo como meta de produçãorganização, a Coréia do Sul (cristianizada após o fim da Guerra da Coréia, que aconteceu de 1950 a 1953), Hong Kong (cedida pela China ao Reino Unido em 1842, devolvida em 1997 após extremas mudanças), Macau (fundada pelos portugueses em 1513, devolvida à China em 1999), Formosa (com Chiang Kai-shek a partir de 1945) e o Oriente todo, inclusive a China, com o Caminho das Duas Vias, a partir da abertura após a morte de Mao Zedong em 1976, principalmente a partir de Deng Xiaoping (que entrou em 1977, mas só começou a efetivar as reformas em 1984) e o conseqüente espalhamento das benesses do crescimento.

                            Mas foi a partir de quando o cristianismo se espalhou pelo restante do mundo que ele passou a ser abandonado nas Américas enquanto modelo de vida, com resultados bem funestos, inclusive declínio do Estado e redução do ritmo de expansão econômica, ou o não-aceleramento dela. A razão é muito simples, Cristo pediu que as pessoas se preocupassem umas com as outras, que as aceitassem, que, por exemplo, as elites admitissem as preocupações populares, o que cria uma BASE AMPLA DE NECESSIDADES de invenções, de conhecimento, de produções e de organizações. Não é nada mágico, mítico, místico – é a visão direta de que ao abrir a socioeconomia ao atendimento do público há muito mais para fazer e para construir.

                            O fechamento na descristianização acaba por concentrar as rendas, por fechar o espectro psicológico no atendimento de poucos, com baixo arrastamento socioeconômico ou produtivorganizativo. A cristianização não é mais uma necessidade cristã, apenas, é universal, pois diz respeito a mais gente das bases sendo atendidas. Na medida em que valores autocráticos, plutocráticos, oligárquicos e outros do mesmo jaez são assumidos como normas de conduta, há um travamento geral do futuro e das perspectivas, portanto, da produção e do consumo. Só isso. O que diz tudo.

                            Vitória, terça-feira, 25 de março de 2003.

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