sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


Desatando o Nó Górdio

 

                            Diz a lenda que Alexandre Magno chegou a certa região onde existia um nó tremendamente grande, estando escrito que quem conseguisse desatá-lo se tornaria imperador. Ele simplesmente foi lá e cortou-o com a espada, o que passou por esses quase 2,5 mil anos como prova de esperteza.

                            Eis que não é.

                            Pois a chave é DESATAR, des-atar, atar ao contrário, des-amarrar, des-juntar, soltar, desembaraçar enfim. O corte não corresponde ao contrário das operações de atamento, é simples destruição. Por acaso resolver um problema de Matemática ou Física corresponderia a riscá-lo todo? De modo algum. O certo seria Alexandre pacientemente desatar o nó, através da inteligência dos gestos, e não cortar a corda pelo exercício da força. Isso mostrou que ele não passava de um garoto aventureiro, impetuoso, oportunista, violento, brutal, selvagem.

                            E quem dele fez propaganda todo esse tempo foi porque não raciocinou, ou porque aderiu à intempestividade soldadesca, à violência militar, que é inoportuna exatamente por fugir à compreensão dos processos que constroem os objetos, dos programas que fazem funcionar as máquinas.

                            Ele não desatou o nó, que ainda está lá, à espera. Ele apenas destruiu, como acontece de os militares fazerem sempre, na falta de compreensão.

                            Vitória, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003.

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