sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


Banditismo Reverso

 

                            É fácil ver a engenharia reversa como um ato de banditismo e inicialmente eu pensava destacar esse fato, mas isso seria apenas uma declaração, quando é nitidamente mais útil investigar a reversibilidade dos crimes, dos atos malsãos.

                            Veja, os crimes são atos de dialógica, atos praticados por seres humanos, que são lógicos e dialéticos, que têm um DIÁLOGO CRIMINOSO, de desvio, com o mundo, sendo o crime, como é, uma doença psicológica (psicopatia) ou sociológica (sociopatia).

                            VENDO O CRIME                                   

LÓGICA DO CRIME
(Espaço do ato) - monal
DIALÉTICA DO CRIME
(Tempo do ato) - relacional
Fenômenos
Conteúdos
Imagens
Palavras
Atos
Conceitos
Formas
Estruturas
Corpos
Mentes
Imaginações
Razões
Imediata (instantâneo)
Mediata (meditado)

                            Naturalmente os crimes mais difíceis de desvendar são os meditados, os pensados, os que demoram tempo para acontecer; os imediatos caem nas classificações anteriores, na repetição, para as quais já existem trilhas anteriores – os delegados não deparam com nada de novo, que devam por sua vez pensar para des-vendar, tirar suas próprias vendas ou tapa-olhos. Assim sendo, deveria haver nas delegacias uma lista de quesitos para enquadrar os crimes, ou seja, uma TIPIFICAÇÃO, um quadro tipificador (letra x número, alfanumérico) com os quesitos que fazem a triagem na árvore, verificando-se se caem imediatamente no ramo esquerdo, dos atos intempestivos, ou se no direito, dos pensamentos tempestivos. Isso vale para todo tipo de crime, inclusive os tributários, ou especialmente estes; porisso deveria existir um TANQUE DE PENSAMENTO, um coletivo de determinação do potencial dos crimes, isto é, da capacidade de pensamento do outro lado. Excluídos os boçais ficam apenas os criminosos potencialmente grandes. Colocados os criminosos numa tabela de muito pequenos (micro), pequenos, médios, grandes e muito grandes (gigantes), como as empresas (pois cada crime é um empreendimento em si), os do lado direito são os grandes e gigantes, os do lado esquerdo os pequenos e muito pequenos. Estes são fáceis de resolver, aqueles não.

                            Daí o TP (tanque de pensamento) se concentraria na dialética, que é racional, enquanto a lógica é sentimental, não-consciente, emocional, de resolução direta.

                            Então viria o DESMONTE DIALÉTICO ou relacional do crime, como num vidro estilhaçado, onde podemos seguir a trilha de sobreposições, ou seja, reconstruir a ÁRVORE DE CHOQUE: o que veio primeiro, depois o segundo, o terceiro, até o que veio depois de tudo, por último – a seqüência dialógica do crime.

                            Evidentemente, como um ato que remonta o info-controle ou info-comunicação, é preciso dispor da Chave do SER (memória, inteligência e controle dos investigadores) e da Chave do TER (matéria, energia e informação), enquanto suporte. Os detetives precisam da mídia (TV, Rádio, rEvista, Jornal, Livro e Internet) circulante e em alguns casos até da não-circulante, secreta, para procederem à investigação, que é ato permanente de investigar. Deveriam dispor de lógicos e dialéticos no grupo, de modo a remontarem a árvore de decisões dos criminosos.

                            Os investigadores devem então se tornar BANDIDOS REVERSOS, pensar como os bandidos, só que ao contrário, percorrendo do avesso o caminho trilhado, até encontrar os mandantes e os executores. Ainda que muitos grandes detetives tenham por si mesmos construídos suas técnicas, tal procedimento característico enquanto Ciência e Técnica categorizadas ainda não existe, ou seja, a Academia não se deu o trabalho de proporcionar aos agentes da Lei instrumentos de reflexão e ação, o que é uma pena, o que tem feito sucumbir tantas buscas, tornadas por isso mesmo infrutíferas, para grande frustração geral.

                            Vitória, sábado, 12 de abril de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário