domingo, 12 de fevereiro de 2017


As Razões de Zenão

 

                            De um modo geral, más definições levam a paradoxos, porque afirmam simultaneamente o sim e o não. Além disso, mostram a construção profunda do universo, isto é, seus limites de expansão, por exemplo, como quando Zenão de Eléia (Eléia, cidade da Itália, Lucânia, antigamente Magna Grécia, onde ele nasceu, entre 490 e 485 e morreu em 430 a.C.) postulou vários paradoxos (além-da-opinião), entre os quais o de Aquiles e a Tartaruga, um dos relativos ao movimento.

                            Sendo Aquiles considerado o corredor mais rápido da Grécia, o paradoxo diz, em termos amplos e reformulados, que começando a qualquer distância atrás dela, por mais devagar que ela vá (poderia ser uma lesma ou um infinitésimo paralítico), Aquiles nunca a conseguirá alcançar, qualquer que seja a velocidade dos seus passos, PORQUE primeiro deverá vencer metade da distância (até qualquer X/n, para qualquer “n”), depois metade da nova distância [até (X – X/n) /p] e assim por diante. Poderia ser metade, 1/3, 7/8, qualquer coisa. Isso só foi resolvido mais recentemente com as séries matemáticas.

                            Antes de Stephen Hawking ter encontrado nas distâncias de Planck a Propriedade Métrica do Universo (que denominei sucessivamente PM da Materenergia e Campartícula Fundamental), como saberíamos que o universo tem um fim, efetivamente? Se não percebermos que o mundo real em que estamos é diferente do mundo virtual da Matemática, jamais poderemos medir uma cama, pois mediríamos metade, depois metade da metade, e assim sucessivamente, nunca chegando a lugar algum. Também não é certo o que dizem os da geometria do caos ou fractais, quando afirmam que as costas dos países são fractais; não são, o que é fractal é a proposição matemática. Fractais desdobram-se indefinidamente, exatamente porque são virtuais, processos matemáticos iterativos, enquanto costas são reais, interativas, realizadas.

                            Bastaria os europeus não terem se deixado enganar, capitulando apressadamente ante o átomo, que não é o a/tomo, sem-divisão dos gregos, é outro, é esse da Química, teriam pensado que em algum ponto o universo real não pode mais ser subdividido e deparariam com a necessidade lógica do ÁTOMO grego, isso que redenominei campartícula fundamental e está por baixo mesmo dos quarks, buscando-a diretamente.

                            Exatamente porque Zenão já o havia mostrado: o universo real não pode ser medido pelo universo matemático. Não realmente. Eles podem ser EQUIPARADOS, tornando-se co-mensuráveis, atribuindo-se as variáveis de um ao outro, desde que saibamos o que estamos fazendo de fato. Fora dessa lembrança, ele nos disse indiretamente, estaríamos nos deixando cair na rede de ilusões, em Maia.

                            Zenão já havia, há 2,5 mil anos, alertado para o fato, antes de perdermos tanto tempo, dando voltas e voltas (até agora os físicos não aceitam ainda o campartícula fundamental) inúteis, exceto no sentido de mostrarmos ao universo nossa estupidez individual e coletiva.

                            E assim, por terem (foi Aristóteles, que “resolveu” inicialmente o paradoxo, esquecendo-se de prestar atenção à questão de fundo, prendendo-se única e exclusivamente à letra, deixando escapar o espírito; do mesmo modo Sócrates, antes, com sua empáfia, orgulho desmedido, afastou os sofistas, que teriam servido para prevenir o mundo dos argumentos sem base lógica, as falácias) desconsiderado os avisos de Zenão, os seres humanos perderam dois e meio milênios.

                            É o que dá a gente se julgar esperta demais.

                            Vitória, terça-feira, 22 de abril de 2003.

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