sábado, 4 de fevereiro de 2017


A Tensão dos Contrários

 

                            No livro de Will Durant, já citado no artigo deste Livro 25 Não se Deprecie, Homem, p. 91, ele diz: “No devido tempo, no fluxo universal, todas as coisas se transformam nos seus contrários: o bem pode se transformar no mal, o mal pode se transformar no bem, a vida se transforma em morte, a morte se transforma em vida. Os contrários são dois aspectos da mesma coisa; a força é a tensão dos contrários”, coloridos meus.

                            Como já mostrei, a dialética grega e o TAO chinês surgiram mais ou mesmo na mesma época, por volta dos séculos VII a V, de forma que isso não é propriamente novidade, o que também foi expresso no modelo, com certas alterações. Contudo, A FORÇA É A TENSÃO DOS CONTRÁRIOS é uma surpresa genuína, maravilhosa, porque nos permite avançar bastante, rumo a uma consolidação de superior nível.

                            Vejamos, há os pares polares opostos/complementares.

                            Eles lutam um contra e a favor do outro e, como é demonstrado no diagrama oriental do Yin/Yang, ocupam o lugar um do outro, o que Hegel e Engels (este depois do primeiro, o primeiro muito depois dos gregos) colocaram em suas três leis. Complementam-se, mais do que apenas migram um para o outro, como está expresso na transformação do sim no não. Eles abraçam-se num amor cósmico e eterno, subterrâneo, por baixo das afirmações evidentes de ódio e rejeição. São aspectos do SIM-NÃO, da ESQUERDIREITA, do NORTESSUL, da VERDADEMENTIRA, do LESTOESTE, do QUERONÃO, do HOMULHER, etc.

                            Entretanto, como mediremos os pólos, a distância entre eles, a forçapoder de sua futura reaproximação, o tempo de duração da rejeição, a quantidade de armadilhas que um preparará para o outro, toda a classe de disputas no Filme da Vida no Cinema da Criação?

                            Veja, Durant forneceu o metro, o padrão, o instrumento de comparação: a tensão do contrário pode ser medida justamente pela força empregada. Agora, concordemos que o poder é a força focada, dirigida, centrada, organizada, estruturada, afunilada para a meta ou propósito, enquanto a força é o poder desfocado, diluído, descentrado, desorganizado, desestruturado, emocional, explosivo, em todas as direções e sentido aplicado, ineficaz.

                            Há uma tensão dos contrários (a própria palavra o diz). SE são contrários, se se opõe, há por definição uma tensão, que dirige do centro para a periferia dois raios, em extremo sendo do mesmo diâmetro, em qualquer outro caso fazendo um ângulo de oposição (aqui haveria um componente que é pura oposição e uma angulação que aproxima para o encontro). O que Durant está dizendo é que essa oposição não é poder, ou raramente o seria, dado que como poder seria racional e inultrapassável – há possibilidade de reunião, em primeiro lugar. Não é oposição diametral.

                            Daí que a força e o exercício da força sejam um pedido de aproximação. A oposição completa é a indiferença, a aceitação implícita de que jamais voltará a haver reunião. A força não é negação completa, é negação parcial que prenuncia a reaproximação em algum futuro. E ela mensura, naquele ângulo das retaliações, a potência da congregação e os demais índices. É um “jogo de comadres”, por assim dizer, como fala o povo: é pancada que não dói, é bater simbolicamente nas mulheres com flor (embora a própria palavra “bater” já me provoque asco).

                            Eis um anúncio maravilhoso numa única frase.
                            Vitória, terça-feira, 11 de março de 2003.

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