A Tensão dos
Contrários
No livro de Will
Durant, já citado no artigo deste Livro 25 Não
se Deprecie, Homem, p. 91, ele diz: “No devido tempo, no fluxo universal, todas as coisas se
transformam nos seus contrários: o bem pode se transformar no mal, o
mal pode se transformar no bem, a vida se transforma em morte, a morte se
transforma em vida. Os contrários são dois aspectos da mesma coisa; a força é a tensão
dos contrários”, coloridos meus.
Como já mostrei, a
dialética grega e o TAO chinês surgiram mais ou mesmo na mesma época, por volta
dos séculos VII a V, de forma que isso não é propriamente novidade, o que
também foi expresso no modelo, com certas alterações. Contudo, A FORÇA É A
TENSÃO DOS CONTRÁRIOS é uma surpresa genuína, maravilhosa, porque nos permite
avançar bastante, rumo a uma consolidação de superior nível.
Vejamos, há os pares
polares opostos/complementares.
Eles lutam um contra
e a favor do outro e, como é demonstrado no diagrama oriental do Yin/Yang,
ocupam o lugar um do outro, o que Hegel e Engels (este depois do primeiro, o
primeiro muito depois dos gregos) colocaram em suas três leis. Complementam-se,
mais do que apenas migram um para o outro, como está expresso na transformação
do sim no não. Eles abraçam-se num amor cósmico e eterno, subterrâneo, por baixo
das afirmações evidentes de ódio e rejeição. São aspectos do SIM-NÃO, da
ESQUERDIREITA, do NORTESSUL, da VERDADEMENTIRA, do LESTOESTE, do QUERONÃO, do
HOMULHER, etc.
Entretanto, como
mediremos os pólos, a distância entre eles, a forçapoder de sua futura
reaproximação, o tempo de duração da rejeição, a quantidade de armadilhas que
um preparará para o outro, toda a classe de disputas no Filme da Vida no Cinema
da Criação?
Veja, Durant
forneceu o metro, o padrão, o instrumento de comparação: a tensão do contrário
pode ser medida justamente pela força empregada. Agora, concordemos que o poder
é a força focada, dirigida, centrada, organizada, estruturada, afunilada para a
meta ou propósito, enquanto a força é o poder desfocado, diluído, descentrado,
desorganizado, desestruturado, emocional, explosivo, em todas as direções e
sentido aplicado, ineficaz.
Há uma tensão dos
contrários (a própria palavra o diz). SE são contrários, se se opõe, há por
definição uma tensão, que dirige do centro para a periferia dois raios, em
extremo sendo do mesmo diâmetro, em qualquer outro caso fazendo um ângulo de
oposição (aqui haveria um componente que é pura oposição e uma angulação que
aproxima para o encontro). O que Durant está dizendo é que essa oposição não é
poder, ou raramente o seria, dado que como poder seria racional e
inultrapassável – há possibilidade de reunião, em primeiro lugar. Não é
oposição diametral.
Daí que a força e o
exercício da força sejam um pedido de aproximação. A oposição completa é a
indiferença, a aceitação implícita de que jamais voltará a haver reunião. A
força não é negação completa, é negação parcial que prenuncia a reaproximação
em algum futuro. E ela mensura, naquele ângulo das retaliações, a potência da
congregação e os demais índices. É um “jogo de comadres”, por assim dizer, como
fala o povo: é pancada que não dói, é bater simbolicamente nas mulheres com
flor (embora a própria palavra “bater” já me provoque asco).
Eis um anúncio
maravilhoso numa única frase.
Vitória,
terça-feira, 11 de março de 2003.
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