quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


A Coleta de Bijuterias

 

                            Pense nas mulheres à entrada da caverna (os homens estando fora caçando – quando estavam juntos faziam filhos interminavelmente): fora os perigos constantes, deparam com árvores, lagos, animais aqui e acolá. Já vimos que a visão delas deve ser espacial e plana, por oposição da dos homens, linear e pontual.

                            Ao escrutinarem a região elas devem rapidamente identificar as árvores já visitadas e aquelas prontas para ceder seus frutos. Devem ver os tubérculos, percebendo com um golpe de visão quais estão maduros (pois retirá-los do solo danificaria suas radículas e matá-los-ia). E há os enfeites das cavernas, cada toca em especial diferenciada das demais, de toda a vizinhança. Homens não se preocupavam muito com as cavernas, dado que passavam a maior parte do tempo fora, em busca de proteínas animais.

                            A chave está na palavra DIFERENÇA. Vivendo em tão íntimo contato, com um cérebro superpreparado para o futuro e a novidade, deviam sofrer pressões terríveis para encontrar novidades que as distinguissem das vizinhas, como fazem até hoje. Isso ficou gravado profundamente na cultura e, talvez, na base biológica, não sei como. Que tem valor de sobrevivência ser diferente é bem visível, é palpável, é cristalino.

                            Olhemos agora os sentidos externinternos das mulheres: devem ser mais aguçados DO MODO FEMININO, por comparação com os dos homens, que vão tomar outra direção. Todas as palavras do dicionário feminino devem ter esse destaque para as mulheres – brilho, cor, tonalidade, contraste, atenção suprema, equilíbrio das formas, durabilidade (pois quem gostaria de ter tanto trabalho para pegar uma coisa que logo em seguida se desfizesse?). Isso não foi investigado pelos psicólogos. Se o modelo da caverna é verdadeiro, se segue que há dentro delas INTERPRETADORES especiais para os instrumentos dos sentidos exteriores. Por exemplo, o interpretador-das-sensações-do-paladar, a administração cerebral da língua da mulher, deve não apenas ser distinto daquele do homem como MUITO MAIS largo em espectro, prodigioso em sutilezas. Se os homens estão caçando e assando suas carnes, que espécie de paladar especial é necessário para isso? No entanto, devendo convencer as crianças a comerem para soltarem o peito que será do próximo que já está vindo, faz todo sentido ter capacidade extremada de inventar uma infinidade de modos de servir os alimentos, para tal sendo fundamental abrir o espectro dos gostos. E assim por diante com os sentidos todos. Se é verdadeiro o modelo, se segue que as mulheres são os goumerts mais exigentes, e não os homens.

                            No sentido de pegar primeiro as bijuterias, os briquebraques das redondezas (pedras brilhantes, galhos, folhas, flores, frutos, ossos, pepitas de ouro, de prata e de platina, carvão e o que mais fosse) o olho feminino se tornou muito mais agudo que o masculino, quando se trata da coleta. O sentido prático disso é que as investigações mostrarão novos arranjos para o comércio, o que já vem sendo aproveitado do modo empírico, por erro e acerto, com os embrulhos brilhantes. No entanto, as ciências poderão ir muito mais longe que os demais conhecimentos, transferindo para as técnicas o que for apurado e daí para a Economia e a Sociologia.

                            Vitória, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003.

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