A Coleta de Bijuterias
Pense nas mulheres à
entrada da caverna (os homens estando fora caçando – quando estavam juntos
faziam filhos interminavelmente): fora os perigos constantes, deparam com
árvores, lagos, animais aqui e acolá. Já vimos que a visão delas deve ser
espacial e plana, por oposição da dos homens, linear e pontual.
Ao escrutinarem a
região elas devem rapidamente identificar as árvores já visitadas e aquelas
prontas para ceder seus frutos. Devem ver os tubérculos, percebendo com um
golpe de visão quais estão maduros (pois retirá-los do solo danificaria suas
radículas e matá-los-ia). E há os enfeites das cavernas, cada toca em especial
diferenciada das demais, de toda a vizinhança. Homens não se preocupavam muito
com as cavernas, dado que passavam a maior parte do tempo fora, em busca de
proteínas animais.
A chave está na
palavra DIFERENÇA. Vivendo em tão íntimo contato, com um cérebro superpreparado
para o futuro e a novidade, deviam sofrer pressões terríveis para encontrar
novidades que as distinguissem das vizinhas, como fazem até hoje. Isso ficou
gravado profundamente na cultura e, talvez, na base biológica, não sei como.
Que tem valor de sobrevivência ser diferente é bem visível, é palpável, é
cristalino.
Olhemos agora os sentidos
externinternos das mulheres: devem ser mais aguçados DO MODO FEMININO, por
comparação com os dos homens, que vão tomar outra direção. Todas as palavras do
dicionário feminino devem ter esse destaque para as mulheres – brilho, cor,
tonalidade, contraste, atenção suprema, equilíbrio das formas, durabilidade
(pois quem gostaria de ter tanto trabalho para pegar uma coisa que logo em
seguida se desfizesse?). Isso não foi investigado pelos psicólogos. Se o modelo
da caverna é verdadeiro, se segue que há dentro delas INTERPRETADORES especiais
para os instrumentos dos sentidos exteriores. Por exemplo, o
interpretador-das-sensações-do-paladar, a administração cerebral da língua da
mulher, deve não apenas ser distinto daquele do homem como MUITO MAIS largo em
espectro, prodigioso em sutilezas. Se os homens estão caçando e assando suas
carnes, que espécie de paladar especial é necessário para isso? No entanto,
devendo convencer as crianças a comerem para soltarem o peito que será do
próximo que já está vindo, faz todo sentido ter capacidade extremada de
inventar uma infinidade de modos de servir os alimentos, para tal sendo
fundamental abrir o espectro dos gostos. E assim por diante com os sentidos
todos. Se é verdadeiro o modelo, se segue que as mulheres são os goumerts mais
exigentes, e não os homens.
No sentido de pegar
primeiro as bijuterias, os briquebraques das redondezas (pedras brilhantes,
galhos, folhas, flores, frutos, ossos, pepitas de ouro, de prata e de platina,
carvão e o que mais fosse) o olho feminino se tornou muito mais agudo que o
masculino, quando se trata da coleta. O sentido prático disso é que as
investigações mostrarão novos arranjos para o comércio, o que já vem sendo
aproveitado do modo empírico, por erro e acerto, com os embrulhos brilhantes.
No entanto, as ciências poderão ir muito mais longe que os demais
conhecimentos, transferindo para as técnicas o que for apurado e daí para a
Economia e a Sociologia.
Vitória,
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003.
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