terça-feira, 7 de fevereiro de 2017


Superpopulação e a Frente TC

 

                            No livro de Johannes Brondsted, Os Vikings (História de uma fascinante civilização), São Paulo, Hemus, s/d, p. 20, o autor diz: “(...) no começo da Era Viking (lá por 800, JAG), as terras escandinavas eram superpovoadas (...)”.

                            Depois de Thomas Malthus (economista e demógrafo britânico, 1766 a 1834, 68 anos entre datas), com suas crenças de que não seria possível fazer crescer a produção tão rápido quando aumentava a população, os neomalthusianos contemporâneos e pós-contemporâneos sempre usam esse desvio socioeconômico contracionista e débil para colocar suas posições. De vez em quando volto a essa questão, reargumentando no sentido de uma racionalidade que pondere os dois lados.

                            O que seria superpopulação?

                            População é “o conjunto dos habitantes de um território” e super é “excesso, aumento, sobrecarga”, segundo o Aurélio Século XXI eletrônico; portanto superpopulação é o excesso, o aumento, a sobrecarga de população.

                            Não chamamos o mero crescimento da população de superpopulação. Por exemplo, a taxa de crescimento populacional no Brasil já foi de 3,2 % na década dos 1970, caiu para 1,9 % na dos 1980 e na dos 1990 baixou a 1,6 %. Em nenhuma ocasião chamamos a esse crescimento superpopulação. Então, não é o simples aumento.

                            Diz-se que existe um excesso de população na Cidade do México, com seus 16,9 milhões em 1996, mas ninguém fala nada dos 27,2 milhões no aglomerado de Tóquio, Japão, que comporta uns 25 % da gente do país, enquanto no México a relação é de uns 18 %. Isso porque o Japão é superdesenvolvido e o México não. O mesmo se dá com relação à área metropolitana de Nova Iorque, com 16,3 milhões, uns 6 % dos EUA. Não é a relação percentual que importa, nem a quantidade de gente ali presente, mas sim se há demasiados pobres e miseráveis em relação ao todo. Ora, ninguém investigou quantos nos EUA e no Japão seriam considerados pobres e miseráveis em relação à presença de ricos e médios-altos, pois o modelo diz que os há como definição percentual em toda parte em todos os tempos. Se segue que “excesso” é julgamento de valor, relativamente à potência socioeconômica do país sede.

                            Isso leva à sobrecarga, que é carga acima do que o conjunto foi projetado para suportar.

                            Ninguém afirma que Portugal, em 2001 com 10 milhões de habitantes, esteja sobrecarregado, embora se diga isso de Cuba, com 11,2 milhões, ainda que tenham áreas muito semelhantes (Cuba 110.922 km2 e Portugal 91.985 km2, densidades habitacionais respectivas de 101 e 109 hab/km2). Cuba, cercada pelas sanções e bloqueios dos EUA, arrasta-se há 40 anos sem ajuda quase nenhuma do mundo, enquanto Portugal desde a saída de Salazar (Antônio de Oliveira, general, 1889 a 1970, 81 anos entre datas, ditador de 1933 até sua morte) e do regime que se segurou até 1975, especialmente depois de ingressar na Comunidade Européia, da qual tem recebido maciços investimentos, vem prosperando aceleradamente.

                            Não é questão de gente nem de território, é de saber se o território comporta a gente, pois Portugal tinha dois milhões de habitantes em 1500, na época dos descobrimentos, e era julgado superpopuloso, enquanto agora com o mesmo território e cinco vezes aquela quantidade de gente não o é. Vê-se que depende do DOMÍNIO DA FRENTE DE CONHECIMENTO (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral, isto é, se ele consegue prover sustento em todos os sentidos. Especialmente de domínio da frente tecnocientífica, se ela consegue ou não suprir os elementos de subsistência. De fato, os EUA estão com 290 milhões de habitantes, quando há menos de 100 anos estavam com uns 130 milhões, vá conseguir os dados, e ninguém ousaria dizer que os Estados Unidos são superpopulosos. O Brasil tem agora 175 milhões, com área continental até maior, mas se aqueles 120 milhões fossem transferidos para cá já seria considerado o contingente superpopulacional.

                            Enfim, a questão da superpopulação e da explosão demográfica não é racional, é emotiva, é questão de julgamento de valor dos “superiores” sobre os “inferiores”, ou seja, é restrição dos que têm sobre os que não têm, negando a estes futuros, ou pretendendo negar.

                            A Escandinávia não era superpopulosa, era deficiente em tecnociência e em Conhecimento geral. Houve um retardamento interno que não permitia a sustentação de populações que seriam perfeitamente aceitáveis com tecnociências mais avançadas. Hoje as populações somadas da Dinamarca, da Suécia, da Finlândia e da Noruega, para não falar da Estônia, da Letônia e da Lituânia, que lhe são aparentadas, por serem antigas colônias suas, são várias vezes aquelas de 1200 anos atrás, e não obstante a Noruega é considerada a nação mais avançada do planeta.

                            Se for assim, por quê os geo-historiadores (especialmente os super-ideologizados neomalthusianos) não são capazes de reconhecer a racionalidade e apelam constantemente à falsa questão da superpopulação? Certamente porque lhes interessa, pois as pessoas só são movidas pelos interesses próprios, mesmo quando alegam o altruísmo (que é a satisfação de ajudar os outros). Que interesse pode ser esse senão a justificação, a racionalização de algum impulso? “Fui obrigado a ir”, “fiz contra a vontade”, “fui empurrado pelas circunstâncias”, esse monte de desculpas.

                            Nenhum país é superpopuloso, as elites atrasaram-se internamente na solução dos problemas e empurram as soluções para fora, culpam as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações de mundos) de fora por seus atrapalhamentos. As elites endógenas bobearam feio, foram incompetentes, estúpidas, não resolveram os problemas apresentados pela Natureza –deixaram-se ficar deitadas confortavelmente em berço esplêndido, superexplorando o povo, e com isso os problemas acumularam-se a ponto de ruptura. O que Malthus estava verdadeiramente mostrando era um metro da incompetência das elites de todos os tempos e lugares. Pois hoje já há alimento para todos (está sobrando, dá para todos, mesmo se as pessoas dos países centrais e dos imitadores da periferia não pararem de se sobrealimentarem – 56 % de OBESOS nos EUA, quer dizer, gordos mórbidos).

                            Vitória, terça-feira, 18 de março de 2003.

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