terça-feira, 14 de fevereiro de 2017


Precavendo-se

 

                            O novo governador do ES, Paulo Hartung Gomes, dito Paulo Hartung, segundo boatos estaria oferecendo 162 % (que pelo tamanho da folha atual ele nem de longe conseguiria dar) de reajuste em troca da renúncia aos precatórios, ação que ganhamos na Justiça a partir da negação de reajuste por Max de Freitas Mauro, ex-governador do período de 1987 a 1991, quando o atual secretário da Fazenda, José Teófilo, foi secretário também.

                            Bem, em primeiro lugar já temos direito a esse percentual, que nos foi negado por acumulação de dois trimestres, de janeiro a março e de abril a junho de 1990. É líquido e certo, porque a constituição federal diz que “a lei não prejudicará o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito”, que é bem o nosso caso, pois já chegou à ultima instância, o Supremo Tribunal Federal. Renunciaríamos a esse direito líquido e certo em troca de uma promessa que poderia ou não ser mantida; que, por exemplo, poderia logo em seguida e com a maior cara de pau ser contestada na mesma Justiça. Dar com uma mão e tirar com a outra é coisa do demônio, freqüentemente praticada pelos governos, especialmente os do ES.

                            Vejamos em primeiro lugar se é interessante. Em tese o Imposto de Renda (IR) seria de 27,5 % para esse montante de dinheiro, caindo nessa faixa; para ficar fácil de calcular tomemos 25 % ou ¼, quer dizer, 40 %. De 162 % o IPAJM (Instituto de Pensões e Aposentadorias Jerônimo Monteiro, nossa previdência oficial) ficaria com 10 %, quer dizer, 16 %, restando (162 – 16) % = 146 %, e daí (146 – 40) % = 106 %. Por outro lado os precatórios dariam igual percentual, dos anos passados, de junho de 1990 a junho de 1993, digamos. Só que além do que já foi descontado acima ainda sairiam 10 % de honorários advocatícios, ou seja, outros 16 %, além de 15 % do Tribunal de Justiça, sempre sobre os 162 %, daí 24 %, então (162 – 16 – 40 – 10 – 24) % = 66 % (sem falar em 1 % para o sindicato). Comparando com 106 % ainda sobrariam na proposta do boato 40 %, o que parece vantagem.

                            Mas não é, por esses dois motivos:

1)      Em qualquer país ou estado civilizado poderíamos confiar, mas aqui não;

2)     Já temos direito a esses 162 % PARA FRENTE.

De forma que ele só estaria nos dando o que nós já temos. E sem garantia de que realmente não nos tiraria, ele ou outro, logo adiante. Enfim, contando que o Estado só fez nos trair até agoraqui não podemos confiar, de modo algum. Temos de desconfiar sempre, nunca mais acreditando em nada e em ninguém.

O governo os oferece possibilidades em troca de certezas. Se renunciássemos estaríamos sujeitos a castigo logo adiante, além de permanente incerteza quanto a ele ocorrer ou não – enfim, à falta de sossego. Eis como agem os governos no Brasil. Traição em cima de traição.
Vitória, domingo, 13 de abril de 2003.

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