As Dimensões de Euler
No mesmo livro de Hart,
p. 434, há uma biografia de Euler (Leonhard, matemático suíço, 1707 a 1783, 76
anos entre datas), e ele diz: “A produção científica e matemática de Euler foi
simplesmente incrível. Escreveu trinta e dois livros, vários deles tendo mais
de um volume, e várias centenas de artigos originais sobre matemática ou
ciência. No total, a coleção de suas obras científicas abrange mais de setenta
volumes! Sua genialidade enriqueceu virtualmente todos os campos da matemática
pura e aplicada, e suas contribuições para a física matemática têm infindável
número de aplicações”.
Não obstante, Hart o
colocou em 77ª posição, abaixo de 76.
Hart, buscando nos
manuais de matemática, coloca de Euler as equações e processos em que o nome
dele aparece:
1. Ângulos de Euler (movimento dos corpos
rígidos);
2. Constante de Euler (séries infinitas);
3. Equações de Euler (hidrodinâmica);
4. Equações do movimento de Euler
(dinâmica dos corpos rígidos);
5. Formula de Euler (variáveis
complexas);
6. Números de Euler (séries infinitas);
7. Curvas poligonais de Euler (equações
diferenciais);
8. Teoremas de Euler sobre as funções
homogêneas (equações diferenciais parciais);
9. Transformação de Euler (séries
infinitas);
10. Lei de Bernoulli-Euler (teoria da
elasticidade);
11. Fórmulas de Euler-Fourier (séries
trigonométricas);
12. Equação de Euler-Lagrange (cálculos de
variações e mecânica), e,
13. Fórmula de Euler-MacLaurin (métodos
numéricos).
Coisas que estavam muitos séculos à
frente do dele.
Cada processo desses, por si só, já
constituiria a glória de qualquer matemático, mas ele foi grande junto com
muitos.
Mais que isso, colocando o
Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática) geral como no modelo, vemos que Euler é,
caracteristicamente, um matemático, colocado no centro mesmo da Criação.
Não é cientista - a confusão de Hart é
a mesma de todos antes do modelo. A Matemática não é uma ciência, mas a Ciência
toda é uma parte da Matemática.
Acontece que é ainda mais que isso.
No livro de Simmons, volume I, Cálculo com Geometria Analítica, São
Paulo, McGraw-Hill, 1987, p. 726 e ss., o autor fala de Euler nestes termos:
“Leonard Euler foi o mais importante cientista suíço e um dos três grandes
matemáticos de nossa época (os outros dois foram Gauss e Riemann). Ele foi
talvez o autor mais prolixo de todos os tempos e em qualquer área. De 1727 a
1783, seus escritos irromperam como uma fonte aparentemente inesgotável,
constantemente acrescentando conhecimento a todos os ramos conhecidos da Matemática
pura e aplicada, e também aos que não eram conhecidos até que ele os criou. Ele
teve em média 800 páginas escritas por ano durante sua longa vida, e apesar
disso nunca pareceu enfadonho. A publicação de seus trabalhos completos começou
em 1911, e seu término não parece próximo. Nessa edição planejou-se incluir 887
títulos em 72 volumes, mas desde então extensos depósitos de manuscritos não
previamente conhecidos têm sido descobertos, e agora estima-se que serão
necessários 100 grandes volumes para completar o projeto”.
Euler foi grande demais para o mundo.
Se ainda se passará o século XXI todo para publicar completamente suas obras,
terão decorrido mais de 200 anos de publicação. Imagine o que teria acontecido
se tudo que ele escreveu tivesse sido lido na ocasião propícia, quer dizer,
logo cedo!
E olhe que ele esteve totalmente cego
nos últimos 17 anos de sua vida. Foi cego de uma vista desde os 28 anos,
segundo Hart. Teve com duas mulheres treze filhos (não é fácil criar nem um,
quanto mais treze), dos quais oito, por infelicidade daqueles tempos, morreram
cedo, ainda na infância. Imagine o que é ganhar a sobrevivência, pagar contas,
cuidar de pacificar tanta gente e ainda produzir tanta matemática.
Segundo Simmons “o físico francês
Arago, falando da incomparável facilidade matemática de Euler, observou que
‘ele calculava sem esforço aparente, como homens respiram ou como águias se
mantêm no ar’”.
Hart foi, nisso como em tanto mais, de
uma infelicidade a toda prova, como se esse fosse o objetivo dele, ao rebaixar
Euler. Para mim Euler foi um dos dez mais, ainda quando devemos listar como
manda o modelo: 7) iluminados, 6) santos e sábios, 5) estadistas, 4)
pesquisadores, 3) profissionais, 2) lideranças e 1) povo. Seguramente Euler foi
um dos iluminados, ainda que da Matemática.
Um iluminado da Matemática e Hart o
coloca abaixo de 76.
Precisa ter uma falta de
visão total para tanta imperícia.
Saudações, querido
Euler, tua reputação será justamente defendida por muitos mais. Só por ele a
Suíça já seria grande. Talvez até devesse se chamar Terra de Euler.
Vitória, sábado, 14 de
junho de 2003.
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