sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


Aproveitando os Pobres

 

                            Alessandra trabalha na padaria, razão social Abatedouro Camará, onde compramos, e seu pai no Hospital das Clínicas, da UFES, Universidade Federal do Espírito Santo, que é público e onde os estudantes USAM os pobres para suas experiências de crescimento nas pesquisas e compreensão. O gesto que ela fez para dizer isso denotou para mim aquele descaso que em geral no mundo e especialmente no Brasil os estudantes de Medicina têm por suas quase-vítimas. Se isso for afirmado pela imprensa o HUCAM (Hospital Universitário das Clínicas, Campus de Maruípe, em Vitória) negará veementemente.

                            Pouco importa tal negação e sim pensar que nós, seres humanos, fazemos experiências que são mais que biológicas/p.2, são psicológicas/p.3, incidem sobre as almas “pobres” e as almas “miseráveis”.

                            Naturalmente não existem almas pobres nem almas miseráveis, são todas almas, com o devido respeito que nos merecem. Entrementes, nos países pobres, de terceiro e de quarto mundos, a consideração que se tem pelos C e D é pequena, quase nula, e é exatamente porisso que tais países continuam pobres e miseráveis. Pobreza e miserabilidade são justamente os índices que apontam a incapacidade das elites para pensar e fazer a realidade melhor e mais alta. Todo esse descaso, inclusive com os índios que foram mortos em Brasília e em outras partes do país por estúpidos estudantes desocupados e impunes, a existência dos esquadrões da morte, os assassinatos que se tornaram corriqueiros, a agressividade sem trava das máfias, tudo isso indica falta de pensimaginação independente, autônoma, que se veja e se pratique alta e nobre. Daí que listar a partir das notícias dos jornais todas essas ofensas ao povo seja desnudar no país a descrença das elites no povo e deste naquelas, seja noticiar o FOSSO ANTINACIONAL que redundará mais adiante em grave crise, se nada for feito para reparar os danos morais e éticos.

                            Vitória, sexta-feira, 04 de abril de 2003.

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