sábado, 3 de junho de 2017


Os Atlantes de Xingam

 

                            Precisamos demonstrar que todos decaem e que nos anos do fim, quando a dissensão tornou-se irremediável a ponto de os celestiais se enfrentarem em volta dos muros da sagrada Montanha Iluminada (na trilha da coletânea Adão Sai de Casa), de eles terem se tornado como os seres humanos e de estarem praticando as maiores baixarias, xingando-se de traidores, de renegados, de opressores, não foram as coisas como pintadas pelos românticos do porvir. E devemos ver que não havia exatamente nobreza, como contam Homero na Ilíada e Tolkien em O Senhor dos Anéis.

                            Naquele momento em que Aquiles desafia, ou durante vários incidentes em que eles se enfrentam da forma mais bárbara, os gigantes estavam decaídos, causando vergonha à memória de Adão em seu túmulo lá longe. Não passavam de quaisquer uns com urgentes desejos, vontades exageradas, pulsões que os contaminavam. Nem de longe pareciam aquelas criaturas doces e nobilíssimas de antanho, dos áureos tempos, de quando Adão estava vivo entre 3,75 e 2,82 mil antes de Cristo.

                            Se rebaixavam, mirando os de fora o que não existia lá dentro da Tróia Olímpica, os de dentro enraivecidos até o estupor, cheios de rancor com os parentes que tinham ido buscar auxílio dos humanos mestiços e dos sapiens e de uma infinidade de barcos, mais de mil, uma frota nunca vista na Alta Antiguidade (1,75 mil antes de Cristo). Veja que Uruk (31º 19’ Norte e 45º 31’ Leste, na Suméria, Mesopotâmia, atual al-Warka, Iraque) se situava num monte destacado na planície, aonde o mar chegava vários milhares de anos atrás, quando Adão o escolheu. Observe de passagem que Hissarlik, Turquia (31º 56’ Norte e 26º 13’ Leste, entrada do estreito que vai dar no Mar de Mármara) onde supostamente se situava a Tróia referida por Heinrich Schiliemann (alemão, 1822 – 1890) - cujas ruínas por suposição teriam sido descobertas em 1870 e era o que eu acreditava também, porque diziam - não é a mesma Tróia verdadeira de que falamos.

TODO MUNDO QUASE FALA A MESMA COISA (parte de artigo da Internet) – é a simpatia do erro.

Exemplo disso, parece-nos, é a Ilíada, que trata da Guerra de Tróia. Durante muito tempo entre os sábios europeus, era crença comum de que os feitos dos guerreiros gregos, imortalizados por Homero, eram fruto da fantasia do poeta. Esta opinião durou até que, em 1870, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann descobriu em Hisarlik, na Turquia, um conjunto de ruínas que possivelmente pertenceram à cidade do rei Príamo. Entre as várias Tróias desde então escavadas, umas sobrepostas às outras, verificou-se que pelo uma delas, a sétima (classificada pelos arqueólogos como VIIa), apresentou traços evidentes de ter sido destruída pelo fogo e outros meios violentos, ao redor dos finais do século 12 a.C.Se a ocorrência da Guerra de Tróia foi comprovada pelos achados de Schliemann, supõe-se que uma série de outros acontecimentos preservados pela cultura greco-romana tenham também acontecido. Assim deu-se com o episódio dos argonautas, uma das mais sensacionais aventuras náuticas de todos os tempos, que ao invés de ser apenas lenda, para alguns historiadores teria de fato se dado ao redor do ano de 1.215 a.C.

                            São dois lugares muito diferentes.

                            Os gregos tardios escolheram um local que ficava próximo e como copiavam tudo reproduziram isso também, mas nada mais longe da verdade. A Tróia Olímpica verdadeira foi aquela de onde se originou a escrita ideográfica, justamente implantada pelos atlantes, enquanto a Tróia de Schiliemann era uma cidade menor, nem se comparado em esplendor à outra.

                            Era diante desta última, a Montanha Iluminada depois simbolizada pela Árvore de Natal que os atlantes no limite da decadência se agrediam mutuamente nas mais vexatórias as situações, chafurdando literalmente na lama do que tinha sido mar e agora era um pântano intratável cheio de paludismo ou malária. Eles literalmente atolavam ali com seus milhares de tropas arrebanhadas em toda parte e seus milhares de navios ancorados mais além. Dois mil anos depois o mar já tinha sido largamente tomado, já não se situava no sopé do morro e sim bem mais longe, os portos tendo sido trasladados. Lá ficaram as naves, enquanto as tropas avançavam a pé. E como ficaram dez anos ali transformaram tudo num lodaçal de dar dó, depois muito romantizado, como sempre. Na realidade eles faziam suas necessidades ali mesmo e tudo tinha virado uma porcaria lá pelo fim do cerco, todo mundo de fora afundando verdadeiramente na merda, os de dentro rindo, embora com fome e sede.

                            Então, eles ficavam se xingando dia após dia, cavaleiros de tristíssima figura, sombras dos celestiais altivos de outrora. Era algo de patético e não aquilo que foi mostrado como heróico. Uns xingavam de cá e outros de lá, cansados demais para avançar, irritados, longe das mulheres os de fora, querendo voltar para casa, algo de dar dó, esfarrapados, sem alimentos dignos, as tendas caindo aos pedaços, as armas enferrujando, um fim melancólico para a Família de Adão, dos dois lados.

                            Vitória, sábado, 27 de março de 2004.

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