sexta-feira, 30 de junho de 2017


A Língua que as Mulheres Inventaram

 

                            Como vimos no Modelo da Caverna, as mulheres (fêmeas e pseudomachos) coletoras ficavam com 80 a 90 % de todos os humanos sob sua guarda, enquanto os homens (machos e pseudofêmeas) caçadores iam com 20 a 10 % à caça. Era assim assimétrico pelas razões apontadas: a) mulheres, 50 %, b) crianças (garotos, excluídas as meninas, que já contaram no outro grupo; seriam, até os 13 anos, metade, grosso modo, porque os machos adultos viviam pouco, até os 25 ou 30 anos, em média), 25 %; c) velhos e velhas; d) inválidos; e) anões e anãs; f) gatos e cachorros de boca pequena, que não contam como humanos, apesar do Magri, mas mesmo assim formavam com o grupão. Somando temos (50 + 25 + X = mais de 75 %, necessariamente, independentemente de X, velhos e velhas). Assim, a Língua das Mulheres atendia a um público maior, de 80 a 90 % de todos, em qualquer caverna.

                            E era, como vimos também, língua cheia de quantificadores (substantivos, pois o volume e área a que devia servir era imenso, relativamente à LINHA DE CAÇA e ao PONTO FOCADO, a presa) e qualificadores (adjetivos), para dar nuança (no Aurélio Século XXI digital: S. f.  1. Cada uma das diversas gradações de uma cor; cambiante, matiz, tom, tonalidade; meio-tom:  2.      Diferença delicada entre coisas do mesmo gênero. 3. Grau de força ou de doçura que convém dar aos sons) ou dilatar a realidade da mente ao encontro da realidade do mundo, acoplando a primeira maximamente à segunda. Os homens faziam o mesmo, mas inicialmente para distinguir um número menor de elementos. Só depois, quando passaram a ficar mais tempo nos grandes campos de caça a necessidade de ampliação apareceu. E mais ainda quando se apoderaram da agropecuária e da irrigação, inventadas também pelas mulheres.

                            Ora, ali estavam milhares de elementos que mostrar, que explicar a um grande número de pessoas TODOS OS DIAS, de modo que a memória é crucial nisso, expandindo-se nelas. Quanto o círculo aumenta (πr2) com o raio? Quanto o volume (4πr3/3)? Um cresce com o quadrado, outro com o cubo, ao passo que a linha masculina é de pressa, de ir e vir correndo atrás da presa e com medo do predador. Não dá tempo para prestar atenção em nada. E a correria faria com que os garotos, dos 13 aos 25 ou 30 anos, esquecessem a maior parte das palavras, de modo que, se isso é verdade, deve ter subsistido até hoje nos jovens machos uma sensação de perda, que pode ser rastreada pelos testes de laboratório.

                            Vitória, quarta-feira, 30 de junho de 2004.

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