A Língua que as
Mulheres Inventaram
Como vimos no Modelo
da Caverna, as mulheres (fêmeas e pseudomachos) coletoras ficavam com 80 a 90 %
de todos os humanos sob sua guarda, enquanto os homens (machos e pseudofêmeas)
caçadores iam com 20 a 10 % à caça. Era assim assimétrico pelas razões
apontadas: a) mulheres, 50 %, b) crianças (garotos, excluídas as meninas, que
já contaram no outro grupo; seriam, até os 13 anos, metade, grosso modo, porque
os machos adultos viviam pouco, até os 25 ou 30 anos, em média), 25 %; c)
velhos e velhas; d) inválidos; e) anões e anãs; f) gatos e cachorros de boca
pequena, que não contam como humanos, apesar do Magri, mas mesmo assim formavam
com o grupão. Somando temos (50 + 25 + X = mais de 75 %, necessariamente,
independentemente de X, velhos e velhas). Assim, a Língua das Mulheres atendia
a um público maior, de 80 a 90 % de todos, em qualquer caverna.
E era, como vimos
também, língua cheia de quantificadores (substantivos, pois o volume e área a
que devia servir era imenso, relativamente à LINHA DE CAÇA e ao PONTO FOCADO, a
presa) e qualificadores (adjetivos), para dar nuança (no Aurélio Século XXI
digital: S. f. 1. Cada uma das diversas
gradações de uma cor; cambiante, matiz, tom, tonalidade; meio-tom: 2. Diferença
delicada entre coisas do mesmo gênero. 3. Grau de força ou de doçura que convém
dar aos sons) ou dilatar a realidade da mente ao encontro da realidade do
mundo, acoplando a primeira maximamente à segunda. Os homens faziam o mesmo,
mas inicialmente para distinguir um número menor de elementos. Só depois,
quando passaram a ficar mais tempo nos grandes campos de caça a necessidade de
ampliação apareceu. E mais ainda quando se apoderaram da agropecuária e da
irrigação, inventadas também pelas mulheres.
Ora, ali estavam
milhares de elementos que mostrar, que explicar a um grande número de pessoas
TODOS OS DIAS, de modo que a memória é crucial nisso, expandindo-se nelas.
Quanto o círculo aumenta (πr2)
com o raio? Quanto o volume (4πr3/3)? Um cresce com o quadrado, outro
com o cubo, ao passo que a linha masculina é de pressa, de ir e vir correndo
atrás da presa e com medo do predador. Não dá tempo para prestar atenção em
nada. E a correria faria com que os garotos, dos 13 aos 25 ou 30 anos,
esquecessem a maior parte das palavras, de modo que, se isso é verdade, deve
ter subsistido até hoje nos jovens machos uma sensação de perda, que pode ser
rastreada pelos testes de laboratório.
Vitória,
quarta-feira, 30 de junho de 2004.
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