quinta-feira, 29 de junho de 2017


400.000.000.001

 

                            Em livro, Bilhões e Bilhões (Reflexões sobre Vida e Morte na Virada do Milênio), São Paulo, Cia. das Letras, 1998, p. 230, ele diz: “Revelou-se que o nosso Sol está na periferia distante de uma imensa galáxia em forma de lente que compreende uns 400 BILHÕES DE OUTROS SÓIS”, maiúsculas minhas.

                            “Outros sóis” significaria que o Sol é o 400 bilhões E UM, uma precisão inacreditável, que não existe, pois a notação científica seria de 4,0.1011 estrelas, significando (+/-) 0,5.1011 como margem de segurança, quer dizer, nada menos que 50 bilhões de estrelas para mais e para menos, ou seja, de 350 a 450 bilhões delas. Sagan sabia perfeitamente disso, era cientista, astrofísico, treinado em linguagem científica. Um escorregão lingüístico.

                            Veja só como podemos nos enganar, todos e cada um.

                            Isso remete a desconfiança em relação à autoridade.

                            Eu sempre tive um problema AGUDO de rejeição da autoridade EM TUDO, mas o modelo me tornou precavido, porque a soma é zero, ou seja, devemos tanto confiar quanto des-confiar. Em que caso é um e em que caso é outro? É caso de confiar quando der certo e é caso de desconfiar quando dê errado. “Dar certo” depende do futuro, o que está sempre em teste, que vai se afirmando cada vez mais próximo de 100 % (1/1); “dê errado” é o contra-exemplo, o primeiro que aparecer. Não devemos ficar ávidos pelo contra-exemplo, seria covardia para com o esforço do pesquisador. Contudo, um certo alívio virá, por ver que a humanidade continua progredindo, pois não queremos especialmente a preservação de um, senão do máximo que puder alcançar as praias do futuro.

                            Desconfiar da autoridade tanto quanto seja possível, confiar tanto quanto não comprometa o futuro. Enfim, devemos estar atentos, sem vacilar um segundo em apontar os erros, porque isso é condição de sobrevivência. Confiar na autoridade, quando ela está errada, é deixar um cego nos conduzir ao precipício; isso não seria bom, nem com relação a Sagan nem com relação a ninguém.
                            Vitória, sábado, 03 de julho de 2004.

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