400.000.000.001
Em livro, Bilhões e Bilhões (Reflexões sobre Vida
e Morte na Virada do Milênio), São Paulo, Cia. das Letras, 1998, p. 230, ele
diz: “Revelou-se que o nosso Sol está na periferia distante de uma imensa
galáxia em forma de lente que compreende uns 400 BILHÕES DE OUTROS SÓIS”,
maiúsculas minhas.
“Outros sóis”
significaria que o Sol é o 400 bilhões E UM, uma precisão inacreditável, que
não existe, pois a notação científica seria de 4,0.1011 estrelas,
significando (+/-) 0,5.1011 como margem de segurança, quer dizer,
nada menos que 50 bilhões de estrelas para mais e para menos, ou seja, de 350 a
450 bilhões delas. Sagan sabia perfeitamente disso, era cientista, astrofísico,
treinado em linguagem científica. Um escorregão lingüístico.
Veja só como podemos
nos enganar, todos e cada um.
Isso remete a
desconfiança em relação à autoridade.
Eu sempre tive um
problema AGUDO de rejeição da autoridade EM TUDO, mas o modelo me tornou
precavido, porque a soma é zero, ou seja, devemos tanto confiar quanto
des-confiar. Em que caso é um e em que caso é outro? É caso de confiar quando
der certo e é caso de desconfiar quando dê errado. “Dar certo” depende do
futuro, o que está sempre em teste, que vai se afirmando cada vez mais próximo
de 100 % (1/1); “dê errado” é o contra-exemplo, o primeiro que aparecer. Não
devemos ficar ávidos pelo contra-exemplo, seria covardia para com o esforço do
pesquisador. Contudo, um certo alívio virá, por ver que a humanidade continua
progredindo, pois não queremos especialmente a preservação de um, senão do
máximo que puder alcançar as praias do futuro.
Desconfiar da
autoridade tanto quanto seja possível, confiar tanto quanto não comprometa o
futuro. Enfim, devemos estar atentos, sem vacilar um segundo em apontar os
erros, porque isso é condição de sobrevivência. Confiar na autoridade, quando
ela está errada, é deixar um cego nos conduzir ao precipício; isso não seria
bom, nem com relação a Sagan nem com relação a ninguém.
Vitória, sábado, 03
de julho de 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário