sexta-feira, 30 de junho de 2017


Coração Quebrado

 

                            Da música de Mário de Andrade e Ary Kerney, Viola Quebrada, que Rolando Boldrin canta.

1.       “Quando da brisa no açoite”, o frio da noite, arrepiando os cabeços do braço;

2.      “A flor da noite se acurvou”, o SOL DE MORTE SE DOEU (uma pessoa representando o Sol se dobra);

3.      Senti um golpe duro (um machado corta figura computacional de cima abaixo);

4.     “Quando ao muro já no escuro meu olhar buscando a cara dela não achou”, olhar cheio de espanto, todo o teatro cai na escuridão, nenhuma luz (de Maroca) se vê; deve continuar assim até a última estrofe, quando acende subitamente;

5.      “Minha viola gemeu”, grito lancinante da viola, elevadíssimo; pungentíssimo, rachando os ouvidos;

6.     “Minha viola quebrou”, som de violão sendo quebrado;

7.      “Meu coração me deixou” – literalmente, um coração voando pelo teatro;

8.     DIZ COM DEBOCHE E RUÍNA DE ABANDONO, grita “porque o fadista nunca sabe trabalhar”, o que transa nunca sabe satisfazer;

9.     Berra: ISSO É BESTEIRA. Pronuncia, com acinte ou pirraça, “pois da flor que brilha e cheira (a vagina) a noite inteira vem, depois, a fruta (semente) que dá gosto de saborear (os filhos) ”;

10.   “Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar”, sai pelo palco ao modo antigo elevando os braços em desespero, como se trabalhar fosse a última coisa, que ele fará para sustentar os filhos da Maroca;

11.    “E todos os dias (e) todas as noites capinar” – uma folhinha vai tirando dia após dia, muito rapidamente, passando décadas;

12.   “Eu sei carpir porque minha alma está arada e loteada, capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar” (duas lanternas saindo de uma figura subitamente se acendem, apontando para ele, que é então encontrado, todas as luzes do teatro se acendendo também. Repete).

Volta a “minha Maroca resolveu pra gosto seu me abandonar”, fala e aponta para as mulheres do teatro, vai descendo a acusa uma por uma, repetidamente, cantando dolorosamente.

Vitória, segunda-feira, 28 de junho de 2004.

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