terça-feira, 27 de junho de 2017


A Matemática Fraca

 

                            O livro Cálculo (com Geometria Analítica), volume 1, São Paulo, McGraw-Hill, 1983, de Earl W. Swokowski custa relativamente caro, pois segundo Gabriel fica por 120 reais, enquanto outros maiores dimensionalmente e mais volumosos, com o dobro de páginas, ficam por 70 reais. É prestigiado, parece.

                            Contudo, no Capítulo 1, Pré-Requisitos para o Cálculo, na página 1, ele diz o que comentarei.

1.       Os pontos associados a certos irracionais, como √2, podem ser obtidos por construção geométrica”. Não podem, de modo algum. Antes de mais recentemente, como quase todos eu acreditava nesse tipo de afirmação, mas de fato os irracionais não podem ser desenhados. Pois √2 é igual a 1 (com um dígito), = 1,4 (com uma casa decimal), = 1,41 (com duas) e assim por diante. Uma apresentação com 9 casas decimais é: 1,414213562..., e segue. Como o metro é 103 mm, multiplicando por mil teríamos 1.414,213562... mm - se tomarmos um quadrado de um metro de lado – para a hipotenusa ou √2. Podemos ver 0,2 mm, 2/10 de mm, mas abaixo disso já seria muito minúsculo, além do poder de resolução do olho. SE multiplicarmos de novo por mil, teremos 1.414.213,562... x 10-3 mm, milésimos de milímetros, que não veremos mais. Não podemos representar. Quando dizemos representar o que fazemos de verdade é mostrar um traço grosso que fingimos apontar para √2, mas de fato ele não faz isso. Aquele traço, por mais fino que seja, ainda é da ordem de grandeza do décimo de milímetro. Verdadeiramente, √2 vai sempre para dentro e para baixo, indefinidamente, e é isso que dizemos quando falamos de irracionais. Então, a afirmativa dele não é verdadeira: os pontos (infinitesimais) associados à raiz de dois NÃO PODEM ser obtidos por construção geométrica, pois são idéias;

2.      “Mas o ponto correspondente a π pode ser aproximado com o grau de precisão desejado, colocando-se sucessivamente os pontos 3, 3,1, 3,14, 3,141, 3,1415, 3,14159 etc.”, grifo e negrito meus. Como quando se diz que a costa da Inglaterra (ou as fronteiras do Paraguai) é uma fractal, há aí um engano, pois as coisas reais esbarram na propriedade métrica da matéria que Stephen Hawking mensurou como sendo da ordem de, ou em torno de 10-35 m. Só vai até ali, não desce mais, ao passo que as fractais estendem-se para sempre, produzindo sempre novos níveis mais interiores de desenhos. DE fato, não com o grau de precisão desejado, pois não há apontamento PRECISO, correto e terminal, e sim impreciso. Então, podemos apontar COM QUALQUER GRAU DE IMPRECISÃO DESEJADO, isto é, se apresentarmos como 3 (como os judeus fizeram na Bíblia) o grau de imprecisão será de 0,141592...; apresentando como 3,14 (como é usual), será de 0,001592..., etc.;

3.      p. 2: “Pode-se mostrar que a cada irracional corresponde um único ponto de l e, reciprocamente, cada ponto de l que não esteja associado a um número racional corresponde a um irracional”. Irracionais não podem ser pontos, isso está mal definido. Um ponto é algo identificável, seja realmente, seja virtualmente, isto é, em idéia. Se irracionais fossem pontos poderiam ser apontados – é a lógica. Acontece que quando tomamos √7 = 2,64... esse não será o irracional mesmo. SE pegarmos 2,64575... também não será e assim por diante. NUNCA conseguiremos apontar o irracional. Ele é, por definição, i-racional, não pertence à classe dos racionais, a razão não pode alcançá-lo;

4.     p. 2: “O número real 0 (zero) não é positivo nem negativo”. Ora, números são sempre positivos ou negativos. Por que será que 0 é dito não-positivo e não-negativo? É porque ele não é número. Como já apontei: 1) ele substituiu 10 e múltiplos de 10 (que chamaríamos αβγδεζηθικλμνξ e assim sucessivamente), é um conveniente substituto simbólico, quando conjugado com os símbolos iniciais, de 1 a 9; 2) é um posicionador, notificador posicional, de partição de base (outras bases poderiam ter sido usadas). Há aí mais uma confusão.

Em resumo, tudo isso é Matemática ruim, fraca, sobre a qual não se tem pensado suficientemente a fundo.

Vitória, domingo, 20 de junho de 2004.

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