A Herança que Mamãe
Deixou
Falando de carvão,
gás e petróleo, Carl Sagan diz na página 111 de seu livro Bilhões e Bilhões (Reflexões sobre a Vida e Morte na Virada do
Milênio), São Paulo, Cia. das Letras, 1998: “A energia química que existe
dentro deles é uma espécie de luz do Sol armazenada”; e na página seguinte:
“(...) enquanto as reservas mundiais de petróleo autenticadas ou ‘comprovadas’
são de quase 1 trilhão de barris”.
Veja, fora o que se
consumiu, apenas um trilhão de barris a mais, cada barril com 166 litros. Mil
litros ou um metro cúbico comporta, então, pouco mais de seis barris. Daí que
as reservas estejam em torno de 166 bilhões de metros cúbicos. Como um km3
tem [(1000 = 103)3 =] 109 m3, isso
significa 166 km3 de petróleo. Já que a fórmula para o volume da
esfera é 4πr3/3 tal volume dá raio de 3,41 km. Todo o petróleo
autenticado ou de reservas comprovadas é esse, não há outro. SE
excepcionalmente for multiplicado por 10, num arroubo ou arrebatamento de
exagero, o raio pouco menos que dobrará para 7,36 km. Esses são o limite
superior e inferior com que podemos contar, o inferior certo e o superior
extremamente exagerado. Essa é toda a herança que Mamãe Terra nos deixou, como
memória; e foi esforço extraordinário do viver e morrer dos organismos todos
cujas carnes e esqueletos de existência estamos queimando. Por mais que seja,
por mais que louvemos Mamãe, a memória não basta.
Se nossa
inteligência derivada de Papai Céu não operar para nos tirar do buraco que a
Terra se tornará morreremos como espécie que se dilata material-energeticamente.
Quer dizer, Mamãe é muito boa, é maravilhosa e coisa e tal, mas se Papai não
cuidou de nós estaremos fritos. A herança de Mamãe dá para viver até a morte,
mas se quisermos vida após a morte presumida devemos apelar à inteligência de
Papai.
Enfim, a carne de
Mamãe só dura um tempo e morre. Se devemos alcançar futuro devemos usar a
inteligência de Papai, sem esquecer jamais que a existência inicial foi Mamãe
quem proporcionou, cortando literalmente de sua carne, preparando lentamente em
bilhões de anos certa liberdade consumida muito rapidamente, em menos de 200
anos de esbanjamento do capital que ela nos deixou.
Vitória, domingo, 20
de junho de 2004.
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