quinta-feira, 29 de junho de 2017


Se Deus Não Lhe Pagar...

 

                            Da música de Chico Buarque, Deus Lhe Pague, texto em anexo.

                            Devem ser muitas pessoas, todas falando alto, mas no tom da música, gritando mesmo, várias vozes da mesma melodia. Em todas as paredes do teatro haverão telões onde passarão cenas chocantes do cotidiano em rápida sucessão. As vozes irão se assanhando, estrondosas, os alto-falantes explodindo dentro da câmara, muitos quilowatts. Os instrumentos serão tocados também cada vez mais alto – é a balbúrdia geral, uma gritaria infernal, a ponto de machucar os ouvidos de cada um e de todos (que devem ser prevenidos antes, recebendo tampões de ouvido, caso queiram – nessa situação sentirão as vibrações na pele e através das cadeiras). Imensos tambores devem ribombar.

                            Ao final camisas (que os espectadores levarão para casa) serão jogadas, estampadas nelas cenas dos jornais (pessoas assassinadas, guerras, notícias de guerra, roubalheira nos governos, tudo de ruim – a cada apresentação serão diferentes).

                            Vitória, quarta-feira, 16 de junho de 2004.

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