Maravilhoso
Sabonete é o Mundo
O mundo é muitas coisas.
Como já disse inúmeras vezes, inclusive nas
memórias, saímos de Cachoeiro do Itapemirim (sul do estado) para Linhares (norte
do ES) em 1963, tinha pouco mais de nove anos. Não me recordo nitidamente como
tomávamos banho, com que tipo de sabão, vivíamos na pobreza (mas não na
miséria, os pobres trabalham, os miseráveis pedem). Em Linhares melhoramos bem
de vida, passamos à classe média de então, primeiro, mamãe nos dava sabão
fabricado (ela se tornou extremamente
competente na fabricação, eu acompanhava: separar os sebos, colocar o grande tacho
no fogo de lenha, mexer, enformar, desenformar as peças maiores paralelepipedais,
cortar aproximadamente em cubos, colocar para secar), depois ele serviu somente
para as roupas, para banhos passamos ao sabão de coco, que era maravilhoso,
espumava muito, limpava, cheirava agradavelmente. Só mais tarde chegamos aos
sabonetes, uma novidade maravilhosa, que foi se diversificando fantasticamente
até chegar aos formidáveis Phebo (só mais tarde vim a saber do apelido de
Apolo-Phebo) e outros, mamãe tinha o cuidado de comprar os mais baratos, nunca
os caríssimos ou caros.
A partir de certo ponto de enriquecimento do
Brasil, os sabonetes foram se multiplicando em quantidade e qualidade, chegamos
aos sabonetes líquidos e aos absurdamente onerosos, das elites, provavelmente
tipos que nunca vi. Agora devem ser milhares de espécies. Mesmo se você se
dispuser a usar um até acabar e for trocando para os diferentes, sem nunca
voltar ao primeiro, pode demorar anos até consumir todos os tipos. Acho que
faria sentido alguém esgotar em livro o assunto, principalmente em e-livro, para
evitar o custo exorbitante das páginas impressas coloridas.
Veja, o mundo atual é esse excesso, embora
não seja só de sabonetes: é a diversidade não-consumível, inesgotável, não
obstante, a população está sempre aborrecida - é isso que “não entendo”, é isso
que revolta: que, mercê ou benefício da grande oferta, não sejamos felizes.
Não é assombroso?
Vitória, quarta-feira, 14 de junho de 2017.
GAVA.
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