Escavando Lagos
Como vimos no artigo
ou podemos raciocinar a partir de O
Corredor Canadense e o que as Ilhas Denunciam, Livro 74, os lagos falam do
levantamento de continentes, de antigos braços de mar que se tornaram lagos
salgados, da decantação dos sais, da morte de peixes e animais marinhos em
geral, sua queda no fundo, sua cobertura pelo lodo e transformação em fósseis,
a mudança dos lagos salgados em lagos de água doce, o fim destes, sua sombra
vista por satélites e finalmente a escavação generalizada.
Assim, lagos são
coleções ou álbuns de fotografias também. Tudo é, mas lagos são máquinas
fotográficas especiais, porque cortando a altura de água para o passado, quando
era maior, o lago mais fundo, podemos na cota dele ir obtendo estratogramas ou fotografias-de-estrato
de terra/solo, mostrando-nos o passado. Quer dizer, se virássemos os lagos ao
avesso e os víssemos como montanhas, elas ficariam mais altas (os lagos mais
fundos) conforme fôssemos recuando no tempo. No ponto extremo teríamos a formação
do lago de água doce, de água salgada, do canhão de mar, do próprio fundo do
mar quando ele começou a nascer.
Assim, lagos são
muito interessantes, mais que qualquer coisa, porque dão retratos restritos,
não misturados. Cada um dos L(i) lagos, para qualquer i de 1 a n, é um mundo em
si, delimitado, um bioma privilegiado, e a união deles em perspectiva racional
pelos pesquisadores pode nos ensinar muito. Lagos são máquinas de aprofundar o
pensamento dos racionais, no presente caso, dos humanos. Pense em cortes que
vão descendo da superfície de água atual 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640 metros
ou o que for, em lâminas, que podem também ser de um metro, tanto qualidade
quanto quantidade: você veria o presente ir recuando para o passado e, postas
as lâminas num documentário, seria interessante ver o passado aparecendo.
Teríamos notícia da vida lacustre como era há um, dois, quatro, oito, dezesseis
ou mais milhões de anos, e de quando tivesse havido a transição da vida
marinha. Veríamos como a vida marinha foi se ausentando com a diminuição da
salinidade.
Não é tão
interessante?
Quem diria que um
lago ofereceria tanto num espaço tão restrito, não é? Mas é dos menores lagos
que vem os melhores perfumes.
Vitória,
quinta-feira, 01 de abril de 2004.
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