terça-feira, 13 de junho de 2017


Casa Poética


 

                            A gente quase toda fica envergonhada de ouvir e ver poetas declamando, seja nas ruas seja nas livrarias. Isso porque não somos treinados desde cedo a ouvir, a criar, a recitar poesias na escola, desde o pré-primário, principalmente no primeiro grau, como fazem os americanos. É que a poesia apela aos sentimentos, o que o Estado pseudo-racional não pode aceitar. Mas a prosa, a literatura, é tolerada porque, embora feita igualmente de palavras, estas não apelam à emoção, aos sentimentos, nem junta pessoas, o que o Estado repressor teme.

                            O único modo de romper o círculo vicioso é através da instalação em cada estado, começando nos mais avançados, de uma Casa Poética, uma casa onde os poetas e as poetisas possam ir teorizar, praticar, contar, cantar, declamar, recitar, ouvir e serem ouvidos, emocionarem e serem emocionados: com auditórios, com parlatórios, com salas de projeção, com sala de reprografia, um verdadeiro Parlamento da Emoção. Com oficinas (agora denominadas demoniacamente de workshops, lojas-de-trabalho -  muito esquisito) de criação, com palestras para ensinar a declamar e ensinar a ouvir, com geo-história da poesia, com museu, salas de projeção, com biblioteca poética ensinando para empresários e não-empresários, mulheres e homens, todas as pessoas.

                            Pode ser um prédio de alguns andares, mas seria melhor se fosse construção distribuída em amplo terreno com bosques, flores, gramado, lago, morros, caminhos, bancos para sentar – uma praça ou um parque anexo, como se fosse a Academia ou o Liceu atenienses, em que se passeava.

                            Sem a emoção, como reequilibraremos os excessos da razão?

                            Os governos precisam investir nisso para amenizar os conflitos, para abrandar os espíritos, para temperar a existência. Não é banal, nem muito menos inútil, pelo contrário, é até investimento capitalista. E os atarefados “homens de negócios” poderiam ir lá para acalmar suas almas de toda vibração negativa.

                            Vitória, sábado, 24 de abril de 2004.

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