Casa
Poética
A gente quase toda
fica envergonhada de ouvir e ver poetas declamando, seja nas ruas seja nas
livrarias. Isso porque não somos treinados desde cedo a ouvir, a criar, a
recitar poesias na escola, desde o pré-primário, principalmente no primeiro
grau, como fazem os americanos. É que a poesia apela aos sentimentos, o que o
Estado pseudo-racional não pode aceitar. Mas a prosa, a literatura, é tolerada
porque, embora feita igualmente de palavras, estas não apelam à emoção, aos
sentimentos, nem junta pessoas, o que o Estado repressor teme.
O
único modo de romper o círculo vicioso é através da instalação em cada estado,
começando nos mais avançados, de uma Casa Poética, uma casa onde os poetas e as
poetisas possam ir teorizar, praticar, contar, cantar, declamar, recitar, ouvir
e serem ouvidos, emocionarem e serem emocionados: com auditórios, com
parlatórios, com salas de projeção, com sala de reprografia, um verdadeiro
Parlamento da Emoção. Com oficinas (agora denominadas demoniacamente de workshops,
lojas-de-trabalho - muito esquisito) de
criação, com palestras para ensinar a declamar e ensinar a ouvir, com
geo-história da poesia, com museu, salas de projeção, com biblioteca poética
ensinando para empresários e não-empresários, mulheres e homens, todas as
pessoas.
Pode
ser um prédio de alguns andares, mas seria melhor se fosse construção
distribuída em amplo terreno com bosques, flores, gramado, lago, morros,
caminhos, bancos para sentar – uma praça ou um parque anexo, como se fosse a
Academia ou o Liceu atenienses, em que se passeava.
Sem
a emoção, como reequilibraremos os excessos da razão?
Os
governos precisam investir nisso para amenizar os conflitos, para abrandar os
espíritos, para temperar a existência. Não é banal, nem muito menos inútil,
pelo contrário, é até investimento capitalista. E os atarefados “homens de
negócios” poderiam ir lá para acalmar suas almas de toda vibração negativa.
Vitória,
sábado, 24 de abril de 2004.
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