quinta-feira, 15 de junho de 2017


Burguesia Selvagem e Estranha


 

                            Quando eu era criança os capitalistas no Brasil perceberam que compondo o diesel o preço do transporte toda vez que o preço dele aumentava os custos dos produtos (pelo lado da entrega, opção militar dos transportes rodoviários de carga bem mais caros que os ferroviários – em razão da presumida guerra que se travaria com os supostos invasores soviéticos, o que nunca ocorreu) aumentavam junto. Assim, subiam os combustíveis subia tudo: pão francês, arroz, tudo mesmo. E ficou assim: o governo aumentar os combustíveis era ordem para aumentar tudo, generalizadamente, enquanto os trabalhadores e os fracos não conseguiam essa reposição. Muita gente enriqueceu com isso e essa é história a ser contada em livro.

                            Vivemos na inflação-extrativa (pelas empresas e pelos governos safados também, na chamada inflação-tributo) durante décadas. Depois, em 1994 as burguesias decidiram mudar o conjunto da expropriação, reduzindo a inflação a perto de zero, relativamente (agora em 2004 está projetada para 4,5 %); como previ, abaixaram a inflação e se apropriaram de mais 30 % das rendas nacionais, a ponto de os 13 % da riqueza em posse de 1 % serem agora de somente 0,6 %.

                            Bem, a inflação declinou a quase zero, mas não desapareceu o mecanismo dos ordinários, dos criminosos; piorou, de fato. Porque se antes aumentavam os preços quando aumentava o custo do livro de diesel, agora o mecanismo é ainda mais sórdido: a) se o preço do litro aumenta, eles sobem os dos produtos; b) se diminui, mantém; c) quando volta aos patamares anteriores sobem DE NOVO. Enfim, sobem de qualquer jeito. Pelo sim e pelo não, sobem. Subiu, aumento; desceu, aumento; subiu de onde tinha descido, aumento de novo. Esse deve ser o Brasil dos militares, o “Brasil que vai pra frente”, sempre para frente e para cima, pelo menos nos preços

                            Uma burguesia assim selvagem e estranha a seu povo, explorando-o em condições tão extremas, principalmente dizendo-se cristã, ainda não se viu na Terra. É abismal. Elas exercem o “direito” de aumentar desbragadamente os preços, apropriando-se de mais trabalho do povo, a torto e a direito. É um total assombro e só a percepção e revelação de tal mecanismo já merece outro livro.

                            Vitória, sexta-feira, 30 de abril de 2004.

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