Burguesia
Selvagem e Estranha
Quando
eu era criança os capitalistas no Brasil perceberam que compondo o diesel o
preço do transporte toda vez que o preço dele aumentava os custos dos produtos
(pelo lado da entrega, opção militar dos transportes rodoviários de carga bem
mais caros que os ferroviários – em razão da presumida guerra que se travaria
com os supostos invasores soviéticos, o que nunca ocorreu) aumentavam junto.
Assim, subiam os combustíveis subia tudo: pão francês, arroz, tudo mesmo. E
ficou assim: o governo aumentar os combustíveis era ordem para aumentar tudo,
generalizadamente, enquanto os trabalhadores e os fracos não conseguiam essa
reposição. Muita gente enriqueceu com isso e essa é história a ser contada em
livro.
Vivemos
na inflação-extrativa (pelas empresas e pelos governos safados também, na
chamada inflação-tributo) durante décadas. Depois, em 1994 as burguesias
decidiram mudar o conjunto da expropriação, reduzindo a inflação a perto de
zero, relativamente (agora em 2004 está projetada para 4,5 %); como previ,
abaixaram a inflação e se apropriaram de mais 30 % das rendas nacionais, a
ponto de os 13 % da riqueza em posse de 1 % serem agora de somente 0,6 %.
Bem,
a inflação declinou a quase zero, mas não desapareceu o mecanismo dos ordinários,
dos criminosos; piorou, de fato. Porque se antes aumentavam os preços quando
aumentava o custo do livro de diesel, agora o mecanismo é ainda mais sórdido:
a) se o preço do litro aumenta, eles sobem os dos produtos; b) se diminui,
mantém; c) quando volta aos patamares anteriores sobem DE NOVO. Enfim, sobem de
qualquer jeito. Pelo sim e pelo não, sobem. Subiu, aumento; desceu, aumento;
subiu de onde tinha descido, aumento de novo. Esse deve ser o Brasil dos
militares, o “Brasil que vai pra frente”, sempre para frente e para cima, pelo
menos nos preços
Uma
burguesia assim selvagem e estranha a seu povo, explorando-o em condições tão
extremas, principalmente dizendo-se cristã, ainda não se viu na Terra. É
abismal. Elas exercem o “direito” de aumentar desbragadamente os preços,
apropriando-se de mais trabalho do povo, a torto e a direito. É um total
assombro e só a percepção e revelação de tal mecanismo já merece outro livro.
Vitória,
sexta-feira, 30 de abril de 2004.
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