segunda-feira, 1 de maio de 2017


O Fim da Promiscuidade

 

                            Como vimos, no Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres coletoras despontou que todos viviam em grande amontoado dentro das cavernas. Os machos e as pseudofêmeas (estas deviam ser, classicamente, 2,5 % ou 1/40 do total populacional – se existiam menos de 40 habitantes a chance toda era não haver nenhuma) saíam muito para caçar, ficando as fêmeas e pseudomachos, mais crianças, velhos, doentes, anões e anãs, portanto 50 % de fêmeas e pseudomachos, mais 25 % de meninos, mais os demais, talvez saíssem uns 20 % de todos.

                            Quando os machos voltavam era uma festa danada e todos copulavam abundantemente, de forma que a cada partida dos machos todas as fêmeas estavam grávidas (ficavam umas poucas pseudofêmeas, engravidadas a pulso nas caçadas; mas uma quantidade tendia a sair até bem tarde, talvez o sétimo ou oitavo mês), menos as deploradas mulheres inférteis – e os pseudomachos, claro. Acontecia então de todos ficarem juntos, transando e transando continuamente dentro das tocas e nas suas imediações, na presença de meninos e meninas, ou escondendo-se muito pouco, como ainda acontece entre os índios.

                            Promiscuidade tem sentido de mistura desordenada, confusão, convivência muito próxima de pessoas de todo tipo. Mas não tinha na origem esse sentido perverso que adotou recentemente, de uns séculos para cá, quando ingleses e outros europeus e americanos e outros povos começaram a adotar a postura de separar os filhos, o que é saudável por uma parte e doentio por outra. Por um lado permitiu o crescimento não-supersexualizado das crianças e por outro as adoeceu, porque nas cavernas as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas – não essas de agora, mas iniciativas) conviveram pelos dez milhões de anos dos hominídeos, criando uma dependência mútua extraordinária que a postura principalmente americana veio desfazer, talvez derivando dessa distância familiar todos os males que eles estão padecendo agora.

                            Imagine que as almas humanas foram moldadas por dez milhões de anos e até pelos 100, 50 ou 35 mil anos dos sapiens e que agora, de 200 anos para cá, pais-e-mães e filhos e filhas foram separados. Desastradamente, acredito, gerando todas essas psicopatias (doenças da alma) e sociopatias (doenças da cultura ou nação ou povelite) americanas, que o mundo por cópia está partilhando. De muito ao mar passamos a muito à terra, oscilando barbaramente da esquerda para a direita (ou vice-versa). Esse desacerto custou-nos inúmeros casos de confronto e conflito interpessoal, principalmente interindividual e interfamiliar, mas não só. A mídia (TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro e Internet) americana noticia isso constantemente.

                            Era erradíssimo pais e mães se relacionarem com filhas e filhos e foi MUITO BOM cortar esse mal, porém do outro lado a distância colocada levou à separação dos adultos em relação às crianças e a todos esses choques, além de a exacerbação e a amplificação do número de divórcios. Pense só na falta que faz às crianças a presença de pais e mães. Acho que as casas deverão ser redesenhadas no futuro para o meio-termo, quer dizer, sem a promiscuidade das cavernas, pois devemos caminhar para longe de seus erros, e sem o excesso de separação de hoje. Os psicólogos deverão estudar uma solução compatível 50/50 com os arquiengenheiros. Isso - é claro - significará centenas de milhões de casas novas e o treinamento de gerações de casais, de modo que daqui a, sei lá, 60 ou 120 anos tenhamos uma coletividade equilibrada. Quase todas as casas de agora deverão ser derrubadas (os casos mais graves) ou refeitas (as aproveitáveis), de modo a adotarem a nova postura. Tudo muito lento e cuidadoso, de forma a não cairmos em outros exageros de um ou outro lado da média. Custo grande, mas que tende a sarar a humanidade de suas tensões e traumas (os traumas da sexualidade foram substituídos pelos traumas do distanciamento – ambos devem ser evitados).

                            Vitória, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004.

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