terça-feira, 30 de maio de 2017


Podem Dizer que Sou Feio

 

                            Chegou um tempo em que, gordo e relaxado, sem mulher para a qual eu desejasse me pavonear, profundamente focado na construção do modelo, vestindo qualquer roupa, comendo e bebendo qualquer coisa, que realmente fiquei com uma aparência que os olhos humanos críticos em demasia podem criticar, quando não se olha a pessoa (indivíduo, família, grupo ou empresa), que os meus amigos começaram a dizer insistentemente da minha feiúra.

                            “Eu sou assim, quem quiser gostar de mim...” (diz a música).

                            À parte a personalidade, que é luzidia evanescência chamada “eu” é certo que há na geo-história a tendência a embelezar fulano e beltrano. De mim, não, podem dizer que sou feio mesmo, meu objetivo na vida não foi ser bonito, nem saberia o que fazer disso. Porque há forma e conteúdo e minha opção foi nitidamente pelo conteúdo, porque a forma é transitória enquanto relação, ela muda muito constantemente.

                            Há um punhado de gente feia no mundo que fez alguma cosia pela humanidade e talvez eu consiga fazer algo, também, de relevante. Não sei bem no quê minha beleza ajudaria as pessoas a fazerem isso e aquilo. Fosse eu o Pedrinho Aguinaga, considerado em algum momento o homem mais bonito do Brasil e não sei se teria feito o modelo e as outras coisas. Não sei o que eu teria feito. De modo que de mim não digam que fui bonito, pois não fui mesmo, não faço questão de mentira em nada e muito menos nisso. Posso passar sem essas afirmações. Mas a insistência, é lógico, chateia, porque, como diz o povo, “pega no pé”, fica muito junto, sempre afirmando a mesma coisa, sem novidades. Que adiantaria dizer que Einstein foi feio, se tal julgamento chegasse a ser feito? Não veio da beleza dele as equações que modificaram o mundo. Por outro lado, o quê a beleza de Teresa Norma fez pelo mundo?

                            Vitória, quinta-feira, 18 de março de 2004.

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