Podem Dizer que Sou
Feio
Chegou um tempo em
que, gordo e relaxado, sem mulher para a qual eu desejasse me pavonear,
profundamente focado na construção do modelo, vestindo qualquer roupa, comendo
e bebendo qualquer coisa, que realmente fiquei com uma aparência que os olhos
humanos críticos em demasia podem criticar, quando não se olha a pessoa
(indivíduo, família, grupo ou empresa), que os meus amigos começaram a dizer
insistentemente da minha feiúra.
“Eu sou assim, quem
quiser gostar de mim...” (diz a música).
À parte a
personalidade, que é luzidia evanescência chamada “eu” é certo que há na
geo-história a tendência a embelezar fulano e beltrano. De mim, não, podem
dizer que sou feio mesmo, meu objetivo na vida não foi ser bonito, nem saberia
o que fazer disso. Porque há forma e conteúdo e minha opção foi nitidamente
pelo conteúdo, porque a forma é transitória enquanto relação, ela muda muito
constantemente.
Há um punhado de
gente feia no mundo que fez alguma cosia pela humanidade e talvez eu consiga
fazer algo, também, de relevante. Não sei bem no quê minha beleza ajudaria as
pessoas a fazerem isso e aquilo. Fosse eu o Pedrinho Aguinaga, considerado em
algum momento o homem mais bonito do Brasil e não sei se teria feito o modelo e
as outras coisas. Não sei o que eu teria feito. De modo que de mim não digam
que fui bonito, pois não fui mesmo, não faço questão de mentira em nada e muito
menos nisso. Posso passar sem essas afirmações. Mas a insistência, é lógico,
chateia, porque, como diz o povo, “pega no pé”, fica muito junto, sempre
afirmando a mesma coisa, sem novidades. Que adiantaria dizer que Einstein foi
feio, se tal julgamento chegasse a ser feito? Não veio da beleza dele as
equações que modificaram o mundo. Por outro lado, o quê a beleza de Teresa
Norma fez pelo mundo?
Vitória,
quinta-feira, 18 de março de 2004.
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