quarta-feira, 31 de maio de 2017


Canoa Furada S.A.

 

                            Existe uma imagem no imaginário brasileiro que fala de “embarcar em canoa furada”, isto é, participar de empreendimento que desde o início estava fadado ao infortúnio. No Brasil as microempresas entram em falência em grande número no primeiro ano de vida, mas ninguém quer ouvir falar de histórias de fracasso, pelo quê elas são escondidas, todos evitando mencionar os derrapamentos, os esbarroamentos, os descarrilamentos. Todo mundo só quer notícia de sucesso. O Pequenas Empresas Grandes Negócios, PEGN, da Rede Globo, que está há muito tempo no ar, só conta esses casos em que tudo correu às mil maravilhas.

                            Pelo contrário, penso que se deveria colher os desastres, recolher as notícias dos mal-sucedidos, pois eles são maioria, como na época do Programa Nacional do Álcool, Proálcool, em que se produzia um litro de álcool para dez litros de vinhoto e sugeri chamar Programa Nacional do Vinhoto, com o quê teríamos aprendido muito mais sobre adubação consorciada, tendo como subproduto valioso o álcool.

                            No caso das histórias de insucesso cabe muito bem recolher essas notícias para mostrar com triagem delas os casos repetitivos de erros e de insistência neles. Se os erros principais forem colocados numa Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições Estatísticas, poderemos ver POR ONDE NÃO CAMINHAR e que atitudes não tomar. Se há insistência de todos e cada um de caminhar por ali é preciso colocar isso em grandes cartazes: “olhe, os perigos principais são estes e aqueles”. Recolhendo com os fracassados essas notícias pode-se ajudar os outros, os que vem depois e teriam tendência irresistível de seguir até os atratores fatais. Quem colocasse uma empresa dessas estaria ajudando a muitos a sair dos buracos recursivos, em que todos ou quase todos têm tendência de cair.

                            Vitória, segunda-feira, 22 de março de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário