domingo, 28 de maio de 2017


Meu Cantinho

 

                            As pessoas dizem desejar conseguir ou construir “seu cantinho” e isso eu não conseguia entender bem, até pensar no Modelo da Caverna dos homens (machos e pseudofêmeas) caçadores e das mulheres (fêmeas e pseudomachos) coletoras, na coletânea A Expansão dos Sapiens.

                            É que devemos ver a Caverna geral como habitação de centenas de pessoas, um tumulto danado de mulheres, crianças, velhos e velhas, anões e anãs, gatos, cachorros de boca pequena e, nas raras voltas, guerreiros que saíam a caçar e ficavam fora dias, semanas e até meses. Era um entupimento muito sério de gente amontoada uma sobre a outra, literalmente, na maior promiscuidade que se pode imaginar, sem quase direito nenhum, exceto da Mãe Dominante e de seu grupinho sacrossanto.

                            Daí que a maior ambição de qualquer mulher era obter o seu “cantinho”, pois era um canto pequeno mesmo, uma brecha, um buraco, uma cova na confusão geral, um terço de um quarto 2 x 3 metros de hoje, algo de ínfimo mesmo, ridículo, pelos nossos padrões. E quando conseguiam seu espaço de acasalamento ficavam muitíssimo satisfeitas. Essa deve ter sido uma razão poderosa para os homens as conquistarem para fora das cavernas nas casas inventadas, artificiais, não-naturais, para onde elas iam a contragosto, separando-se do grupão, ou para as casas nômades.

                            Isso terá um apelo comercial atávico, primordial, isso de falar de conseguir o “seu cantinho”, sua autorização para ser indivíduo no meio do coletivo, especialmente para as jovens mulheres e as menininhas. De fato, ter o “seu cantinho” era o equivalente a ser adulta, mãe, procriadora respeitada, equivalendo a ter apartamento hoje, só que MUITO MAIS importante, vital, era a chance de deixar descendência no futuro, era ser aceita na COMUNIDADE DAS MÃES, criaturas invioláveis, que eram ouvidas, que falavam (menininhas, mais que os meninos, não podiam falar, não tinham direito a nada, eram competidoras potenciais por esperma). Velhas, que voltavam à condição de não-mães, eram tratadas como crianças do sexo feminino, enxotadas, e possivelmente faziam de tudo para não demonstrar que não tinham filhos (Como? Roubando os das outras, após simulação – mas as mulheres conhecem), porque perdiam direito ao seu “cantinho” e se juntavam à massa de menininhas sem canto seu separado onde dormir e fazer sexo e candidatar-se a mãe.
                            Vitória, sábado, 13 de março de 2004.

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