Meu Cantinho
As pessoas dizem
desejar conseguir ou construir “seu cantinho” e isso eu não conseguia entender
bem, até pensar no Modelo da Caverna dos homens (machos e pseudofêmeas)
caçadores e das mulheres (fêmeas e pseudomachos) coletoras, na coletânea A Expansão dos Sapiens.
É que devemos ver a
Caverna geral como habitação de centenas de pessoas, um tumulto danado de
mulheres, crianças, velhos e velhas, anões e anãs, gatos, cachorros de boca
pequena e, nas raras voltas, guerreiros que saíam a caçar e ficavam fora dias,
semanas e até meses. Era um entupimento muito sério de gente amontoada uma
sobre a outra, literalmente, na maior promiscuidade que se pode imaginar, sem
quase direito nenhum, exceto da Mãe Dominante e de seu grupinho sacrossanto.
Daí que a maior
ambição de qualquer mulher era obter o seu “cantinho”, pois era um canto
pequeno mesmo, uma brecha, um buraco, uma cova na confusão geral, um terço de
um quarto 2 x 3 metros de hoje, algo de ínfimo mesmo, ridículo, pelos nossos
padrões. E quando conseguiam seu espaço de acasalamento ficavam muitíssimo
satisfeitas. Essa deve ter sido uma razão poderosa para os homens as conquistarem
para fora das cavernas nas casas inventadas, artificiais, não-naturais, para
onde elas iam a contragosto, separando-se do grupão, ou para as casas nômades.
Isso terá um apelo
comercial atávico, primordial, isso de falar de conseguir o “seu cantinho”, sua
autorização para ser indivíduo no meio do coletivo, especialmente para as
jovens mulheres e as menininhas. De fato, ter o “seu cantinho” era o
equivalente a ser adulta, mãe, procriadora respeitada, equivalendo a ter
apartamento hoje, só que MUITO MAIS importante, vital, era a chance de deixar descendência
no futuro, era ser aceita na COMUNIDADE DAS MÃES, criaturas invioláveis, que
eram ouvidas, que falavam (menininhas, mais que os meninos, não podiam falar,
não tinham direito a nada, eram competidoras potenciais por esperma). Velhas,
que voltavam à condição de não-mães, eram tratadas como crianças do sexo
feminino, enxotadas, e possivelmente faziam de tudo para não demonstrar que não
tinham filhos (Como? Roubando os das outras, após simulação – mas as mulheres
conhecem), porque perdiam direito ao seu “cantinho” e se juntavam à massa de
menininhas sem canto seu separado onde dormir e fazer sexo e candidatar-se a
mãe.
Vitória, sábado, 13
de março de 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário