Arquitetura Agressiva
Pensei
escrever uma série de livros mais vastos, de 200 ou 300 páginas, e tenho uma
quantidade de títulos, uns 60, de forma que só aí já vai outro projeto de vida
(de 12 a 18 mil páginas) bastante formidável em sua ambição, porque paralela às
outras atividades, que são muitas.
Um
desses livros é Anticubo, porque, veja, as nossas construções são sempre
paralelepípedos. Lá por 1977 ou 1978 (sei porque foi antes de papai morrer em
outubro de 1978) eu namorava a Gorete, com quem travei debates agudos, eu
dizendo que as construções de então pareciam caixas de sapato postas em pé, que
precisavam de projeções, de certos confortos para os moradores, o que
acidentalmente ocorreu depois.
Nos
filmes de FC os tecnartistas estão sempre colocando construções arredondadas,
que são mais do seu feitio, do lado da vida, enquanto as quadradas denotam o artificialismo
greco-romano, por contraposição ao oriental, dominado presentemente. Ou seja, a
“eficiência” tecnocientífica, tendo suprimido ou afastado do cenário de
dominância os outros modos de conhecer (Magia/Arte, Teologia/Religião,
Filosofia/Ideologia), quer o rendimento direto, a eficácia incisiva,
contundente, cortante – sendo a menor distância entre dois pontos uma reta. Contudo,
não é sempre assim. Embora a menor distância entre dois planetas seja uma reta,
o campo gravitacional obriga a fazer longas curvas. Ir direto ao ponto pode ser
contraproducente.
E esse
afastamento forçado do equilíbrio 50/50 da soma zero dos pares polares
opostos/complementares no Ocidente, com ultra privilégios para o lado reto e
afastamento do lado circular, significou restrições derivadas das resistências
humanas, do desamor associado às pressões, do desconforto psicológico cuja
solução curva teria levado a rendimento maior derivado do sossego
socioeconômico.
Em
resumo, essa arquiengenharia agressiva, de retas e pontas aguçadas que ferem
nossas almas em busca de quietude, essa falta de amaciamento, de brandura, de
sensibilidade, esse contraste abusivo dos choques dos bicudos que não se
beijam, levou certamente o Ocidente a essa agressividade que se espalhou como
um câncer e agoraqui nos assusta por sua violência inaudita, que inclusive
atingiu minha família, na pessoa do meu irmão mais velho, Ary.
As
pessoas podem se perguntar o que tem a ver os objetos, as casas, os prédios, as
ruas serem retas com a gente ter se tornado agressiva. Tem tudo a ver, como um
pouco mais de raciocínio acadêmico pode mostrar, ou eu o farei, tendo tempo, no
texto projetado.
Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de
2002.