terça-feira, 6 de novembro de 2018


Terterra

 

Em Terterra os terterrenses eram divididos em vários grupos que representavam os ricos A, os médio-altos B, os médios C, os médio-baixos ou pobres D e os miseráveis E.

Os Terfazendamaior, os mais ricos dentre todos, chegavam a ter 41 mil alqueires paulistas de 24,2 mil m2 cada (mais de mil km2) no bairro chamado Goiás. Noutro bairro, Piauí, um tinha 150 mil hectares (dividindo por 100 dá 1.500 km2). Um queria um bilhão de reais pela sua propriedade.

Os Terfazendamenor, médio-altos, viviam em seu bairro, apartados dos de baixo e querendo se transformar naqueles de cima.

Os Tersítio, médios, tinham 60 hectares e se achavam “bem de vida” - o que é a ilusão... Era formidável como as pessoas se vestiam de suas preferências possíveis e faziam de tudo para valorizá-las.

Os Terchácara eram pobres, mas por simpatia se diziam médio-baixos, como se isso lhes prometesse chegar a médios e, quem sabe (Jesus na causa!), ó, meu Deus me ajude, num golpe de loteria chegar a médio-altos, seria de arrasar poder olhar de banda e com menosprezo certos parentes...

Os Terlote, os miseráveis, viviam espremidinhos em lotes que iam de 12 x 30 (360 m2) a 15 x 30 (450 m2). Por vezes, mais de um numa “puxadinha” para os filhos atrás ou em cima. Ou vários na vertical, “quatro por andar”, 100 ou 200 num lote.

Os Terfazendamaior quase nunca eram vistos, a gente só sabia deles pela Internet. Às vezes no Grandelote deles chegava a passar um rio ou havia um grande lago: como compreender essas dimensões? Era coisa de outro mundo, literalmente. Você jamais chegaria lá. Eles eram os donos da Cidade e expulsavam todos dos campos que eram seus através do Êxodo Rural, livro escrito por Leão Ruris.

No entanto, os terterrenses viviam todos no mesmo lugar, falavam a mesma língua, acreditavam no único Deus e os Terfazendamaior e Terfazendamenor passavam de carro na mesma rua que os outros, com a diferença pequena, quase insignificante de os de baixo só passarem ou ficarem nas calçadas, que era o lugar deles.

Êta mundo véio sem portera, sô!

Serra, quarta-feira, 13 de junho de 2012.

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