quinta-feira, 8 de novembro de 2018


Leviatã

 

Rapaz, Jorginho ficou chato demais da conta.

Somos amigos há mais de 18 anos, não dava para evitar, tive de ouvir dia após dia. Não sei o que o levou a ficar contra os governos todos, ele passou a odiar, não queria contar por quê. Bom, amizade é isso, é para sempre, não dá para divorciar.

E toca falar mal dos governos.

Não era um ou dois, eram todos, todo dia no bar.

Perguntei a ele se falava assim para a mulher, ele disse que sim, depois soube que ela pediu o divórcio.

As pessoas do bar quando viam o Jorginho cortavam volta, achavam assunto noutra mesa ou até saíam dele, me deixavam sozinho, os canalhas, até alguns amigos antigos desavergonhados.

Tive que ouvir, dia após dia.

E de tanto ouvir fui olhar na Internet.

Primeiro foi o ES.

Olhei só para achar argumentos contra os dele. Vi que o GEES gastava mal mesmo, todos os poderes. Comecei a prestar atenção, fui investigar, era aquilo mesmo que ele falava, até pior. Puta merda! Que coisa escandalosa! Isso quando não escondiam as informações. Por acaso sou contador e apareciam as coisas mais ridículas, o que chamaram de “parafuso pentágono”, o parafuso que para o Pentágono americano custava 100 podia ser encontrado a 30 no mercado.

Fiquei espantadíssimo.

Aprofundei.

Rapaz, o que existe por aí você não consegue imaginar.

Passei a prestar atenção na mídia (TV, Revista, Jornal, Livro-Editoria, Internet, Rádio, Cinema), mas somente nas notícias sobre os governos, donos dos nossos tributos que vão alimentar aquela bocarra insaciável. As aplicações são as mais disparatadas, sem qualquer justificativa racional.

Olhei para os outros estados.

Fiquei tão fascinado que não fazia outra coisa. Diferentemente do Jorginho, minha esposa acompanhava, pois era advogada e nossos filhos já estavam fora nas faculdades. Ficávamos ansiosos para chegar a casa e sempre que sobrava um tempinho nos nossos escritórios, olhávamos também.

Fui aos países, falo três línguas, fora o português.

Pôrra, cara, quase caí da cadeira.

Não há nenhuma explicação. Uma quantidade de aplicações aquieta o povo, há a roubalheira e há tudo aquilo desnecessário.

Comecei a falar com as pessoas.

O Jorginho é nosso guia.

A ideia dele é que devemos rediscutir a razão de ser do Estado geral, com todos os seus desdobramentos. Antigamente, diz, as pessoas não podiam ter acesso nem às cidades vizinhas, quando mais aos estados vizinhos e a distantes continentes, mas agora tudo está ao alcance com a telefonia universal e a Internet; seria em tese possível “despedir” o governo inteiro e substituí-lo por formas pós-contemporâneas de políticadministrar.

O ESTADO-LEVIATÃ

Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3-B6P_PmgYYWKpxUNNGv_gkUF1D653MBTOovC0Zukcz-b-pQLXhg6jk9B8L4Ce912dFzcF2qYKjSXiOt_c424AxgQjde-6tWL86e5PnEeTmb9t6dJHvxdOBhn_4neS2v26-pHFc4AgSk/s1600/Thomas+Hobbes+por+John+Michael+Wright+-+Wikip.jpg
Hobbes
Descrição: http://www.discursus.xpg.com.br/iconoteca/leviata.jpg
O Estado.

Não é tão simples assim, pelo contrário, é complicadíssimo, contudo vale a pena discutir, levantar a peteca, revolver o lodo, oxigenar o fundo, desalojar os vermes, dar um susto nas criaturas escondidas, provocar a Grande Revolução: será que estamos pagando cem quando deveríamos pagar trinta? Caso estejamos pagando 70 a mais, não poderíamos – ao enxugar o Estado – gastar mais conosco mesmos?

A pergunta do Jorginho (que meses antes eu taxava de idiota) soa completamente necessária agora.

Tornei-me adepto.

Fã de carteirinha do Jorginho.

Agora que o Jorginho está por cima da carne seca e aparece na mídia a mulher dele voltou, finalmente descobriu o valor do Jorge. Quem não vê que ele é um cara supimpa?

Serra, sexta-feira, 13 de julho de 2012.

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