Vestir Bem
Por
ter sido chamado a membro do Tribunal do Júri de Vitória tive de vestir terno
depois de 30 anos (o primeiro que tive, usado no batismo do primeiro filho de
Ary, meu irmão mais velho, acabei doando a um amigo, Pascoal – na realidade emprestei,
mas ele nunca devolveu). Por acidente fui ao Sindifiscal e um dos diretores, W,
disse que só a Justiça pode fazer certos colegas se vestirem bem.
Isso
me deu oportunidade de pensar sobre o “vestir bem”.
Ora,
tendo dinheiro e tempo qualquer um que queira se dedicar a isso pode se “vestir
bem” PORQUE as roupas são pensadas pelos tecnartistas da moda, os estilistas,
como se diz agora, os modistas, como se dizia antes, e confeccionadas por
pessoas gabaritadas, grandes costureiras ou costureiros. Os tecidos são
escolhidos de um grande leque de ofertas atuais, em quantidade e em qualidade,
vários tipos de padronagem com todo tipo de caimento.
Tendo-se
dinheiro pode-se ir a lojas em centros de compra (shopping centers, para quem
não reconhece a forma em sua própria língua), ou a milhares de lojas existentes
em Vitória, no ES, do Brasil e no mundo, até. Ganhando o que nós fiscais
ganhamos, agora em torno de 6,0 mil líquidos (eu, a partir de setembro/2002),
QUALQUER UM pode se vestir “bem”.
Sem
entrar na questão do julgamento de valor, que seria um estonteante debate
filosófico, fica apenas a tendência a seguir modas, e eu não sou de seguir
nada. É preciso querer estar inserido, e eu não quero estar inserido nessas
coisas. Depois, meu dinheiro é mais bem aplicado em livros e em conhecimento em
geral, que custa caro e para tantos não tem valor algum.
Mais
ainda, para alguns, se vestir “mal” tem essa característica benéfica de afastar
o tipo de gente que preza a segunda pele, ou seja, toda espécie de pessoas que
valoriza a aparência, quando se está envolvido com o pensar. É uma maneira
ótima de afastar os tolos (outra é andar sem dinheiro – ninguém, fora os
amigos, quer pagar para os “duros”).
Peguemos
a altura, a largura, a profundidade de uma pessoa, seu tipo físico, algum
dinheiro, alguma paciência para escolher, particular tendência a gastar tempo
em futilidades, a desobrigação de pensar em qualquer coisa por ela já encontrar
o mundo pronto em quase tudo (por haver uma coletividade imensa que sustenta
seu grau elevadíssimo de despreocupação e individualismo) e pronto! Voilá! -
como dizem os franceses. É num piscar de olhos. É porisso que há relativamente
tanta gente “bem vestida” no mundo e relativamente tão poucos pensamentos que
desnudem os conteúdos compreensivos.
Vitória,
quinta-feira, 24 de outubro de 2002.
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