terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Vestir Bem

 

                            Por ter sido chamado a membro do Tribunal do Júri de Vitória tive de vestir terno depois de 30 anos (o primeiro que tive, usado no batismo do primeiro filho de Ary, meu irmão mais velho, acabei doando a um amigo, Pascoal – na realidade emprestei, mas ele nunca devolveu). Por acidente fui ao Sindifiscal e um dos diretores, W, disse que só a Justiça pode fazer certos colegas se vestirem bem.

                            Isso me deu oportunidade de pensar sobre o “vestir bem”.

                            Ora, tendo dinheiro e tempo qualquer um que queira se dedicar a isso pode se “vestir bem” PORQUE as roupas são pensadas pelos tecnartistas da moda, os estilistas, como se diz agora, os modistas, como se dizia antes, e confeccionadas por pessoas gabaritadas, grandes costureiras ou costureiros. Os tecidos são escolhidos de um grande leque de ofertas atuais, em quantidade e em qualidade, vários tipos de padronagem com todo tipo de caimento.

                            Tendo-se dinheiro pode-se ir a lojas em centros de compra (shopping centers, para quem não reconhece a forma em sua própria língua), ou a milhares de lojas existentes em Vitória, no ES, do Brasil e no mundo, até. Ganhando o que nós fiscais ganhamos, agora em torno de 6,0 mil líquidos (eu, a partir de setembro/2002), QUALQUER UM pode se vestir “bem”.

                            Sem entrar na questão do julgamento de valor, que seria um estonteante debate filosófico, fica apenas a tendência a seguir modas, e eu não sou de seguir nada. É preciso querer estar inserido, e eu não quero estar inserido nessas coisas. Depois, meu dinheiro é mais bem aplicado em livros e em conhecimento em geral, que custa caro e para tantos não tem valor algum.

                            Mais ainda, para alguns, se vestir “mal” tem essa característica benéfica de afastar o tipo de gente que preza a segunda pele, ou seja, toda espécie de pessoas que valoriza a aparência, quando se está envolvido com o pensar. É uma maneira ótima de afastar os tolos (outra é andar sem dinheiro – ninguém, fora os amigos, quer pagar para os “duros”).

                            Peguemos a altura, a largura, a profundidade de uma pessoa, seu tipo físico, algum dinheiro, alguma paciência para escolher, particular tendência a gastar tempo em futilidades, a desobrigação de pensar em qualquer coisa por ela já encontrar o mundo pronto em quase tudo (por haver uma coletividade imensa que sustenta seu grau elevadíssimo de despreocupação e individualismo) e pronto! Voilá! - como dizem os franceses. É num piscar de olhos. É porisso que há relativamente tanta gente “bem vestida” no mundo e relativamente tão poucos pensamentos que desnudem os conteúdos compreensivos.

                            Vitória, quinta-feira, 24 de outubro de 2002.

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