Os Bons Velhinhos ...
Na rua, olhando a Parada de Sete de
Setembro relativa à independência brasileira estava o velhinho de 88 e a
velinha de 82 anos, esta com a cabeça recostada no ombro dele, “tão gracinhas”,
como dizem as mulheres.
Roberto Carlos Compton, físico teórico
da UNICAMP escolheu justo esses dois para fotografar com seu dispositivo
espaçotemporal que tomava as memórias das pessoas (de modo nenhum ele tinha
autorização governamental ou da universidade para tal) e recompunha inclusive
tridimensionalmente a vida das pessoas. Até então tinha obtido resultados
totalmente normais, vidas pacatas, totalmente prosaicas, sossegadas, banais,
corriqueiras, triviais.
Até então.
Com aqueles dois foi diferente, pois
tinham sido agentes secretos cujas aposentadorias foram bem tramadas,
construídas com muito cuidado depois de 60 anos de serviços impolutos.
O Roberto tinha mexido num vespeiro
enorme.
Excluindo as cenas sexuais, fixou-se
nas vidas dos dois profissionais quando jovens. Com máquinas e programas e a partir
das visões-de-memória reconstruiu como em cena de cinema 3D as vidas dos dois
anos após ano desde a década dos 1950 por toda parte do mundo - dos EUA à URSS,
do Oriente Médio aos nórdicos, da África à America Latina eles tinham estado em
todas, unidos ou separados, em geral separados, mas não sempre. E então
voltavam de férias para casa, calmamente, o senhor e a senhora Smith, para
fazer paralelo ao filme.
Não era nada inventado, como no
cinema, os dias transcorriam como horas, as horas como segundos, era
demoradíssimo, de modo que ele se especializou nos cortes ainda mais do que
antes. Compôs vários filmes que passava para os amigos.
FILMES
DE ESPIÕES
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Finalmente se aposentaram no Brasil,
onde existem tanto heróis quanto bandidos de toda espécie.
Vida bucólica, muito tranqüila.
Uma beleza.
Até serem fotografados pelo TCD/Tecedê
(tropo-crono-dispositivo, nome difícil de falar). ACONTECE que eles tinham
visto muito, convivido com políticos de todo naipe, tinham visto coisas
proibidas a outros olhos, olhos de RC e outros que foram morrendo um a um dos
modos mais bizarros possível, até o próprio RC mergulhar no rio com carro e
tudo, caindo uma pedra enorme de caminhão sobre ele, 100 toneladas. A máquina
sumiu, os diagramas sumiram, os técnicos e artistas que tinham trabalhado com
ele sumiram, sumiu muita gente e a imprensa não falou um A.
O falar é de prata, o silêncio é de
ouro.
Serra, segunda-feira,
18 de junho de 2012.
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