Repartição do Mundo
Descobriram na Amazônia peruana uma
nova fruta deliciosa a que deram o nome de mundo, no Brasil mundo também, que
finalmente foi vendida nas feiras-livres. Existiam cinco tipos de mundo, desde
os mais baratos até os mais caros. Os pobres e médio-baixos, sempre petulantes,
desafiadores, arrogantes queriam porque queriam ter acesso ao mundo dos ricos.
Os feirantes explicavam pacientemente.
- Esse mundo dos ricos é praticamente
inacessível a vocês, custa 100 vezes tanto quanto o dos miseráveis, só 1 % tem
acesso a ele. Vocês devem se contentar com o mundo de vocês.
Os pobres e médios não queriam saber,
queriam porque queriam ter acesso ao mundo dos ricos.
- Então pague 100 vezes!
- Não, queremos o mundo dos ricos pelo
mesmo preço.
O governo teve de interferir, lançando
o Programa Nosso Mundo, Nossa Causa.
Os políticos entraram no jogo: - “Famintos, unidos, jamais serão comidos” e
imediatamente com a palavra de ordem pleitearam o Mundo Zero, o mundo subsidiado, Os Que Contam no Mundo Ajudando os Que Não Contam a Sonharem com o
Mundo Melhor, começando com algumas lambidas em dias predeterminados.
O mundo dos pobres era mixuruca, bem
miúdo, o munduído, uma variedade feia que nem maracujá de gaveta, todo engelhado,
encarquilhado, enrugadíssimo, horroroso de se ver, escroto com força. Bem
diferente do mundo dos ricos, que era vistoso que só ele, grande, fornido, sem
jaça, brilhante, colorido, agradável de ver, todo precioso, nobre, colhido em
plena força e pujança.
E ao ser repartido, o mundo dos ricos
agradava a todos os ricos, enquanto o mundo dos pobres mal dava para quem queria,
coisinha pequenina, a própria feiúra.
Os políticos prometiam mundos e
fundos, estes os futuros mundos-dos-pobres, os funduídos que serem fornecidos
pela seleção artificial da EMPAPER, o órgão da Agricultura que prometia usar
tudo nos fundos dos pobres para alarga-los.
Os pobres, impacientes, pressionavam
os políticos, que desejavam ir estudar os mundos de fora à custa do dinheiro do
governo-povo.
No mundo os ricos apostavam.
No fundo os pobres confiavam: estavam
indo para o fundo com toda confiança e graça que lhes era característica.
Ah, como era gostoso o mundo!
Só quem provou sabe como é que rói.
Serra, segunda-feira, 18 de junho de
2012.
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