O Anjo Desobediente
Em i Deus-Natureza a soma 50/50 dos
pares polares opostos-complementares não quer dizer impossibilidade de
intervir. Porém, visto que há a doação do livre-querer ou livre-arbítrio,
necessariamente a políticadministração dos negócios racionais (por exemplo, os
dos seres humanos) significa NÃO-INTERFERÊNCIA MESMO.
É vedado.
A vedação é garantia de total
autonomia ao tomar decisões.
É PORISSO que os anjos, como todo seu
poder como Guarda Divina e tudo aquilo, toda aquela pompa e circunstância não
pode interferir SOB NENHUMA CONDIÇÃO.
Eles se ressentem disso, claro.
Tanto poder e não poder dar nem um
toque?
É demais.
Daí, durante toda a geo-história eles
coçaram e não puderam fazer nada, exceto algumas vezes, digamos daquela vez em
que o Portador da Luz se enfureceu e fez todas aquelas trapalhadas, você sabe.
É que as coisas devem dar certo sem qualquer interferência. Esse “dar certo”
não é impositivo: deve dar certo porque a consciência de i Deus-Natureza
não-finito está tão impossivelmente além de qualquer coisa que fatalmente dará
certo se as pessoas conseguirem atinar com o caminho.
Podem não atinar.
Contudo, se fizerem assim SERÁ POR
OPÇÃO, quer dizer, escolha sua, não de outrem, nem mesmo de qualquer anjo.
Acontece que esse anjo em especial era
desobediente.
Não do mesmo modo agressivo do
Portador, apenas não-obediente. Ele queria ajudar, queria participar, se
condoia, o coração dele ficava apertado, cheio de comiseração pelas
criaturinhas bobas. E com isso dava um empurrãozinho. Nada muito grave, nada
muito sério, um triscar, um toque levíssimo, coisa pouca, uma lufada de ar.
Serafim ia andando e quando ia pisar o
anjo falou tsk, tsk.
Serafim assustou-se e parou, evitando
pisar, olhou e ia escorregar, porque logo depois outro pisou, escorregou no musgo,
bateu de cabeça com a nuca, desmaiou, quem sabe ele iria morrer em condição
igual?
Puxa! Que sorte!
Doutra vez esteve por um triz de entrar
à esquerda na encruzilhada, o cavalo parecia atentado, foi para a direita, ele
teve que seguir por ali, escapando por pouco de cair numa emboscada.
E assim foi, ocasião após ocasião, um
sem fim de vezes em que – ele começou a perceber, bobo não era – foi ajudado
pelo anjo da guarda. E em vez de morrer uma vez só Serafim fez jornada muito
mais longa.
A
GRANDE VOLTA DE SERAFIM
Serafim
e Seus Filhos
São três machos e uma fêmea, por
sinal Maria,
Que com todas se parecia. Todos de olhar esperto, para ver bem perto, Quem de muito longe é que vinha. Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentos, Em noite clarinha, eia-ô, O João Quebra-Toco, Mané-Quindim, Lourenço e Maria . . . Noite alta de silêncio e Lua, Serafim, O bom pastor de casa saía. Dos quatro meninos, dois levavam rifle, E os outros dois levavam fumo e farinha. Bandoleros de los campos verdes, Don Quijotes, De nuestro desierto, eia-ô, Serafim bom de corte, Mané, João, Lourenço e Maria . . . Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novo, Era quem dos quatro tudo sabia. Resolveu deixar o bando e partir pra longe, Onde ninguém lhe conhecia. Serafim jurou vingança, Filho meu não dança conforme a dança, eia-ô, E mataram o Lourenço em noite alta de lua mansa . . . Todo mundo dessas redondezas Conta que o tal Lourenço não deu sossego. Fez cair na vida sua irmã Maria E os outros dois matou, só de medo. Serafim depois que viu o filho lobisomem, Perdeu o juízo, eia-ô, E morreu sete vezes, Até abrir caminho pro paraíso. . . |
Serra, quarta-feira, 18 de julho de
2012.
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