Em Busca do
Entendimento
No ônibus o motorista virou-se para
trás:
- Que hora é aí?
- A mesma daí.
- Não, qual é a hora no seu relógio?
- No meu relógio não é hora nenhuma,
ele é um marcador supostamente síncrono com o tempo do mundo. É um artefato,
não tem hora dele, é a hora geral.
- Não, qual é a hora?
- É a do fuso horário.
- E qual é a hora do fuso horário?
- 10.
- 10 em ponto?
- Não, já passamos do ponto.
- E então?
- Então o quê?
- A hora.
- 10, já falei.
- Mas é 10, exatamente?
- Não, exatamente, não.
- Então, quantos minutos?
- 35 minutos.
- Cê é difícil, hem?
- Difícil em que sentido?
Um passageiro, incomodado, gritou lá
de trás.
- Motorista, não dá papo pra esse
cara, vê se olha pra frente, porra!
- Difícil no sentido de que a gente
tem de ser muito precisa.
- É, precisão é fundamental.
- De onde você é?
- Daqui mesmo.
- Daqui, onde?
- Da Terra.
- Não, de que estado e cidade?
- Do Espírito Santo.
- De que cidade?
- Em que sentido? Onde nasci ou onde
moro?
- Onde você nasceu?
- Ah, em Alfredo Chaves.
- E mora aqui?
- Aqui, onde, dentro do ônibus? Não,
moro em Jacaraípe.
- Pô, motorista, olha pra frente...
Não tem uma placa dizendo para não falar com o motorista?
Outro passageiro entra em cena.
- Você não tá falando com o motorista,
seu idiota?
- Idiota é a mãe.
- Não bota a mãe no meio, seu corno.
- Ô, seus babacas, vão ficar igual
umas franguinhas aí?
- Cala a boca, seu otário.
- Quem é otário, seu animal?
Daí desandou, dei sinal e desci.
Serra, sexta-feira, 20 de julho de
2012.
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