quarta-feira, 7 de novembro de 2018


Em Busca do Entendimento

 

No ônibus o motorista virou-se para trás:

- Que hora é aí?

- A mesma daí.

- Não, qual é a hora no seu relógio?

- No meu relógio não é hora nenhuma, ele é um marcador supostamente síncrono com o tempo do mundo. É um artefato, não tem hora dele, é a hora geral.

- Não, qual é a hora?

- É a do fuso horário.

- E qual é a hora do fuso horário?

- 10.

- 10 em ponto?

- Não, já passamos do ponto.

- E então?

- Então o quê?

- A hora.

- 10, já falei.

- Mas é 10, exatamente?

- Não, exatamente, não.

- Então, quantos minutos?

- 35 minutos.

- Cê é difícil, hem?

- Difícil em que sentido?

Um passageiro, incomodado, gritou lá de trás.

- Motorista, não dá papo pra esse cara, vê se olha pra frente, porra!

- Difícil no sentido de que a gente tem de ser muito precisa.

- É, precisão é fundamental.

- De onde você é?

- Daqui mesmo.

- Daqui, onde?

- Da Terra.

- Não, de que estado e cidade?

- Do Espírito Santo.

- De que cidade?

- Em que sentido? Onde nasci ou onde moro?

- Onde você nasceu?

- Ah, em Alfredo Chaves.

- E mora aqui?

- Aqui, onde, dentro do ônibus? Não, moro em Jacaraípe.

- Pô, motorista, olha pra frente... Não tem uma placa dizendo para não falar com o motorista?

Outro passageiro entra em cena.

- Você não tá falando com o motorista, seu idiota?

- Idiota é a mãe.

- Não bota a mãe no meio, seu corno.

- Ô, seus babacas, vão ficar igual umas franguinhas aí?

- Cala a boca, seu otário.

- Quem é otário, seu animal?

Daí desandou, dei sinal e desci.

Serra, sexta-feira, 20 de julho de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário