A Preocupante Verdade
O
fascistóide (não digo fascista, porque até para isso é preciso ser grande,
embora do modo errado) livro de Paul Kennedy, Preparando para o Século XXI,
Rio de Janeiro, Campus, 1993, ele diz à página 21: “A menção do México e da Nigéria nos aproxima da essência
do problema, ou seja, que esses aumentos estão acontecendo, esmagadoramente, nos
países em desenvolvimento. De fato, entre hoje e 2025 cerca de 95 % de todo o
crescimento mundial da população ocorrerá nesses países. Na estimativa
de que a taxa ‘média’ de crescimento anual da população do mundo em 1990-1995
será de 1,7 % estão ocultas algumas diferenças espantosas, que vão do pequeno
aumento na Europa (0,22 % ao ano) até a taxa de expansão muito maior da África
(3,0 % a.a.). Talvez a maneira mais dramática de mostrar essa diferença seja
observar que em 1950 a população africana era a metade da européia, em 1985
tinha empatado (cerca de 480 milhões de habitantes, cada) e em 2025 deve ser
três vezes maior (SIC) (1,58 bilhão contra 512 milhões) ”.
Ou
seja, os bons e adiantados estão crescendo pouco, enquanto os maus e atrasados
estão crescendo muito.
Veja
que não é “três vezes mais” e sim três vezes tanto quanto: 1580/512 = 3,09. De
qualquer forma a taxa africana baixará, como a do Brasil baixou, a da Europa,
dos EUA, da Rússia, do Japão, de todos os países que se adiantaram um pouco
mais, PORQUE, certamente, a África também dará saltos.
Veja
só o que os revolucionários de Chiapas, no México, fizeram por nós: Paul
Kennedy escreve em 1993, depois do Setembro Negro de 1987, com a moratória
mexicana. Nesse ínterim os EUA emprestaram US$ 40 bilhões, que o México está
pagando, e Canadá, EUA e México se unirão no NAFTA, Acordo de Livre Comércio
da América do Norte, na sigla em inglês (North-American Free Trade
Agreement), e o México vem prosperando assombrosamente desde 1995, pelo menos,
por sete anos seguidos.
Agora,
com o medo de os guerrilheiros das FARC, Forças Armadas da Colômbia,
contaminarem o país MUITO MAIS importante que é o Brasil, os EUA estão
apressando a instalação da ALCA, Área de Livre Comércio das Américas
(também como meio de enfrentar a Europa e a área de acordo e domínio da
China-Japão), querendo adiantá-la de 2005 para 2003.
Esses
dois, NAFTA e ALCA são o equivalente do Plano Marshall para a recuperação do
Oriente depois de 1945, visando subtraí-lo da influência comunista Russa e
Chinesa. A Coréia do Norte, muito sabiamente, está tentando negociar
aproveitamentos com base numa ameaça real ou imaginária.
Para
resumir, o México disparou socioeconomicamente. Nem de longe declinou como
esperavam apenas seis anos antes, pelo contrário, empinou para cima e não vem
parando nada mesmo. Já não se contam as zombarias americanas em filmes, como
antes, até porque agora seria ferir um parceiro muito mais importante. A
Nigéria, que não tem nenhuma guerrilha preocupante, ficou de fora, bem como
toda a África.
Com
relação aos, aceitemos, 1,6 bilhão de habitantes da África, lembremos que o
continente é imenso, maior que a América do Sul (esta tem aproximadamente o
dobro da área do Brasil, que é de 8,5 milhões de km2, então uns 17,5
a 18,5 milhões de km2, ao passo que a África chega a 30,3 milhões de
km2. A densidade populacional da África é de 1/3 da Européia, grosso
modo, de maneira que em 2025, a dar-se o que Kennedy está prevendo, estariam
empatadas.
Quero
dizer que o fato de a África ter possuído 1/3 da gente européia em 1950, de ter
empatado com a Europa em 1985 e poder ter 40 anos depois, em 2025, segundo
projeções contestáveis, o triplo daquela, portanto ter multiplicado a população
por nove (9) em apenas 75 anos, não tem um significado tão grande.
A
preocupante verdade não é o crescimento demográfico, que se deu no passado, que
se dá no presente e se dará no futuro, para o qual tem havido soluções, de um
modo ou de outro, que permitiram a continuidade da civilização, mercê das
mensagens reparadoras dos iluminados, e sim o FATO IRRETORQUÍVEL de que não há
confiança no ser humano. Infelizmente não há. Depois de tantos milênios de
ensinamento ainda não há. Essa é a tristeza maior.
Falta
confiança, que é via de mão dupla, que é acreditar realmente no próximo, como
Jesus pediu.
Essa
é que a verdade mais preocupante.
Vitória, terça-feira, 12 de novembro de
2002.
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