terça-feira, 3 de janeiro de 2017


A Preocupante Verdade

 

                            O fascistóide (não digo fascista, porque até para isso é preciso ser grande, embora do modo errado) livro de Paul Kennedy, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993,            ele diz à página 21: “A menção do México e da Nigéria nos aproxima da essência do problema, ou seja, que esses aumentos estão acontecendo, esmagadoramente, nos países em desenvolvimento. De fato, entre hoje e 2025 cerca de 95 % de todo o crescimento mundial da população ocorrerá nesses países. Na estimativa de que a taxa ‘média’ de crescimento anual da população do mundo em 1990-1995 será de 1,7 % estão ocultas algumas diferenças espantosas, que vão do pequeno aumento na Europa (0,22 % ao ano) até a taxa de expansão muito maior da África (3,0 % a.a.). Talvez a maneira mais dramática de mostrar essa diferença seja observar que em 1950 a população africana era a metade da européia, em 1985 tinha empatado (cerca de 480 milhões de habitantes, cada) e em 2025 deve ser três vezes maior (SIC) (1,58 bilhão contra 512 milhões) ”.

                            Ou seja, os bons e adiantados estão crescendo pouco, enquanto os maus e atrasados estão crescendo muito.

                            Veja que não é “três vezes mais” e sim três vezes tanto quanto: 1580/512 = 3,09. De qualquer forma a taxa africana baixará, como a do Brasil baixou, a da Europa, dos EUA, da Rússia, do Japão, de todos os países que se adiantaram um pouco mais, PORQUE, certamente, a África também dará saltos.

                            Veja só o que os revolucionários de Chiapas, no México, fizeram por nós: Paul Kennedy escreve em 1993, depois do Setembro Negro de 1987, com a moratória mexicana. Nesse ínterim os EUA emprestaram US$ 40 bilhões, que o México está pagando, e Canadá, EUA e México se unirão no NAFTA, Acordo de Livre Comércio da América do Norte, na sigla em inglês (North-American Free Trade Agreement), e o México vem prosperando assombrosamente desde 1995, pelo menos, por sete anos seguidos.

                            Agora, com o medo de os guerrilheiros das FARC, Forças Armadas da Colômbia, contaminarem o país MUITO MAIS importante que é o Brasil, os EUA estão apressando a instalação da ALCA, Área de Livre Comércio das Américas (também como meio de enfrentar a Europa e a área de acordo e domínio da China-Japão), querendo adiantá-la de 2005 para 2003.

                            Esses dois, NAFTA e ALCA são o equivalente do Plano Marshall para a recuperação do Oriente depois de 1945, visando subtraí-lo da influência comunista Russa e Chinesa. A Coréia do Norte, muito sabiamente, está tentando negociar aproveitamentos com base numa ameaça real ou imaginária.

                            Para resumir, o México disparou socioeconomicamente. Nem de longe declinou como esperavam apenas seis anos antes, pelo contrário, empinou para cima e não vem parando nada mesmo. Já não se contam as zombarias americanas em filmes, como antes, até porque agora seria ferir um parceiro muito mais importante. A Nigéria, que não tem nenhuma guerrilha preocupante, ficou de fora, bem como toda a África.

                            Com relação aos, aceitemos, 1,6 bilhão de habitantes da África, lembremos que o continente é imenso, maior que a América do Sul (esta tem aproximadamente o dobro da área do Brasil, que é de 8,5 milhões de km2, então uns 17,5 a 18,5 milhões de km2, ao passo que a África chega a 30,3 milhões de km2. A densidade populacional da África é de 1/3 da Européia, grosso modo, de maneira que em 2025, a dar-se o que Kennedy está prevendo, estariam empatadas.

                            Quero dizer que o fato de a África ter possuído 1/3 da gente européia em 1950, de ter empatado com a Europa em 1985 e poder ter 40 anos depois, em 2025, segundo projeções contestáveis, o triplo daquela, portanto ter multiplicado a população por nove (9) em apenas 75 anos, não tem um significado tão grande.

                            A preocupante verdade não é o crescimento demográfico, que se deu no passado, que se dá no presente e se dará no futuro, para o qual tem havido soluções, de um modo ou de outro, que permitiram a continuidade da civilização, mercê das mensagens reparadoras dos iluminados, e sim o FATO IRRETORQUÍVEL de que não há confiança no ser humano. Infelizmente não há. Depois de tantos milênios de ensinamento ainda não há. Essa é a tristeza maior.

                            Falta confiança, que é via de mão dupla, que é acreditar realmente no próximo, como Jesus pediu.

                            Essa é que a verdade mais preocupante.
                            Vitória, terça-feira, 12 de novembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário