A Conquista das Fitas de Herança
No
livro Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993
(excepcionalmente a mesma data do original americano, indicando que o livro foi
considerado muito importante pela editora – entretanto, é um texto fascista e
constrangedor), o autor, Paul Kennedy, diz à página 19: “Como iremos ver, essas disparidades regionais são o aspecto
mais crítico. Se a população da Terra se estivesse expandindo e devorando
recursos em ritmo igual em todo o planeta, já seria bastante sério. Mas o fato
de que povos diferentes produzem padrões demográficos muito diferentes – alguns
crescendo depressa, outros estagnados, e outros ainda em declínio absoluto –
torna a questão ainda mais problemática”, colorido meu.
Como
se vê, é a continuação dos argumentos do Clube de Roma no livro Os
Limites do Crescimento, tudo posto numa nova roupagem mais macia, e não tão
direta e ofensiva.
Isso
nos permitirá raciocinar sobre as fitas de heranças.
Veja
o ADRN como uma FH ao nível da célula, na micropirâmide (campartícula
fundamental, subcampartículas, átomos, replicadores, células, órgãos e
corpomentes). São vários replicadores, o ADRN é um só. Portanto, a célula têm
várias FH. Temos dois grupos, de FH físico-químicas e biológicas-p.2
Mais
acima, na mesopirâmide (indivíduos, famílias, grupos, empresas,
municípios/cidades, estados, nações e mundos), temos as FH psicológicas-p.3 e
informacionais-p.4. O que a Vida (e até antes dela) faz é conquistar as FH, é
montá-las e conquistá-las. A verdadeira predação é de
informação-controle/comunicação, info-controle ou IC. Então, estamos montando e
passando adiante as FH psicológicas, artificiais, não mais naturais como antes.
Uma
empresa é uma FH psicológica (são passadas adiante as figuras ou psicanálises;
os objetivos ou psico-sínteses; as produções ou economias; as organizações ou
sociologias; os espaçotempos ou geo-histórias). Então, na realidade, o que
passamos são almas, razões, raciocínios das, e sobre as figuras. O verdadeiro
patrimônio são as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) nos seus
ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundos). Passamos e repassamos
pessoambientes governempresariais políticadministrativos produtivorganizativos.
ESSA É A RIQUEZA verdadeira, nenhuma outra. Não passamos objetos, porque o que
faríamos com eles sem pessoas?
Os
idiotas pensam que passam terrenos de fábricas, paredes, maquinário, carros,
aparelhos, instrumentos, programas. Não, de modo algum, o que passamos mesmo
são pessoas, almas, razões e redes de relações internas e externas (isso
sequer é mencionado nas transações e nem se dá importância, de tal modo os
seres humanos estão alienados de si e de seu coletivo de trabalho).
Ele
teme pelo declínio demográfico da Europa e pelo crescimento mais lento dos EUA
sendo “engolfado” pelo crescimento muito mais acelerado dos outros povos. Tudo
que é “bom” está declinando, estagnado ou crescendo a ritmo lento, enquanto
tudo que é “ruim” está multiplicando aceleradamente. Mas antes era a Europa e
os EUA, para não dizer o Japão, que estavam crescendo exponencialmente, em
termos de população, o que preocupou Malthus, porque a Revolução Industrial se
deu lá na Inglaterra, em primeiro lugar, e foi sentida racionalmente também lá
em primeiro lugar.
Se
os EUA, a Europa e o Japão puderam construir FH que fossem bastante sábias para
retardar ou anular a explosão da chamada “bomba demográfica”, porque não o
seriam os demais países? É muita falta de confiança, é ou não é?
No
fundo o Fascismo geral é essa falta de confiança, a idéia de que os outros
não serão sábios o bastante. Sempre os outros. Como Bob Fields (Roberto Campos)
disse, copiando alguém, “o inferno são os outros”.
Os
outros povos SERÃO CAPAZES porque por um lado conquistarão as FH européias,
americanas e japonesas, imitando-as, e por outro lado irão criar também, até
mais proveitosamente.
É
no que confio.
Vitória,
terça-feira, 12 de novembro de 2002.
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