quarta-feira, 7 de novembro de 2018


Cuidado, Cão Pastor

 

Era uma casa lá de Jacaraípe, tinha para o lado do oeste um muro alto de mais de dois metros. Para o lado de leste havia vizinhança com casa de dois andares colada. Os fundos eu não via, era outra casa. De frente, para os lados do sul ficava uma grade também alta, mas a distância de uma haste a outra na grade de ferro era de 10 cm ou mais, de modo que um cão poderia enfiar a bocarra por ali.

Havia um aviso:

CUIDADO, CÃO PASTOR.

Bom, pelo menos não havia aquilo de “cão anti-social”, pois os cães não são anti-sociais, pelo contrário, são criaturas muito meigas e amorosas. Quando os despudorados antigos donos os abandonam nas ruas eles voltam à sua natureza não agressiva e passeiam tranquilamente entre os humanos. São doces e tranqüilos, os pobres amiguinhos abandonados. Anti-sociais são as pessoas.

A casa em si ficava à esquerda para quem via de frente, sentido sul-norte, e, sem ser extraordinariamente bonita, tinha paredes brancas (ao contrário dessas nojentas de várias cores) e janelas verdes naquele belo tom imperial distintivo e elegante. No quintal via-se uma garagem dupla, de madeira ainda como as do campo, de modo que parecia roça na cidade, bastante charmosas. Mostrava algumas árvores grandes para sombra e outras menores de flores como cerejeiras e quaresmeiras.

Era ambiente pacífico, tranqüilo a não mais poder, sonolento, a mais extrema pachorra, o terreno todo dormia. TUDO dormia, sonado, numa despreocupação e falta de desassossego de dar inveja a Buda.

Qual a razão do aviso?

CUIDADO, CÃO PASTOR.

As pessoas passavam ao largo, cortavam volta, que o cão não mordesse; e menos ainda se assustariam com os latidos presumidamente muito altos, sendo pastor. Alguns nem passavam na calçada, iam pela rua, pouco movimentada.

Contudo, embora sejam as pessoas avisadas tem sempre um ou outro curioso que, vendo o cachorro calmamente sentado na posição característica, se aproxima e fica olhando. Nesse dia, pobres coitados, foram dois rapazes que se encostaram à grade e ficaram olhando, até que o cão falou:

- Meus irmãos, como disse Paulo em Tessalonicenses 14,12...

Serra, quarta-feira, 25 de julho de 2012.

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