domingo, 4 de novembro de 2018


O Morro dos Ventos Uivantes ...

 

Não sei onde os arquitetos e engenheiros da prefeitura estavam com a cabeça que não esperaram o ano todo para sondar o lugar, mas o fato é que construíram um palanque imenso tipo Woodstock ou Rock in Rio para a realização de shows. Terraplenaram o lugar e fizeram enorme estacionamento, bem como gramaram uma área grande para os roqueiros sentarem. Banheiros, quiosques, pronto-socorro, tinha de tudo.

Logo quando foram fazer a primeira apresentação por ocasião da festa da cidade viram que ventava muito e o vento encanado pelos morros laterais produzia aquele som aterrador, uuuuu, uuuuuu, era de arrepiar.

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC4hl1S1-4MfVffRNnkS2ijwlWV0Kvw98vxBz8CBFoAb7TaCmDOFauvF2mkcRV0X_QhA8S4HEWFGSu9UW9rVEI6jwYgkvlZAjWjWVYQ9FxnObaN3_6x9E621pFCWtJhd7frFve1gPh4tDy/s1600/morro_ventos_uivantes_03.jpg
Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8_sq6dPqDj1TRJSOiRIxWQ6Y1z1Jz6NK3FHY1hppxCv7oSTAziR7Tfd08ex3aOp-XprVui67fsfRRzFiKeBsPMRpPBziNhwld0lzrOjvubHLVYrTjNZdUQQFKCfWsxxzEVCTab51ehyphenhyphenOF/s640/Wuthering_Heights_Genealogy.gif
Descrição: http://blog.maisestudo.com.br/wp-content/uploads/2011/11/21225942_4.jpg
Descrição: http://i.s8.com.br/images/dvds/cover/img6/21866216_4.jpg

Parecia coisa construída, mas era natural.

Uuuuuuuuuu, aquela coisa penosa, alma penada mesmo.

Além do incômodo do uivo havia a chateação maior, pois parecia vaia – os músicos estavam tocando e parecia que o público estava vaiando. Não tem coisa pior, qualquer um estremece com isso, qualquer um fica abalado, transtornado. Experimenta, se você não acredita. Demole todo cristão, acaba com o cara mais forte e destemido. Ainda mais que não era vaia que esgotasse o fôlego, que a pessoa precisasse respirar, era contínuo mesmo, ia fundo na alma.

Os músicos que se apresentavam tentaram levar na flauta, tentaram não prestar atenção, botaram chumaços de algodão nos ouvidos, mas não adiantava, além de dificultar ouvir os compassos dos outros. Apresentou-se a segunda, a terceira, a quinta banda no primeiro dia; a fama negativa foi se espalhando. Cada banda terminava a apresentação com alívio e corria para os camarins, procurando fugir o quanto antes daquela cidade.  A muito custo levaram o segundo dia, já quase vazio de público, foi fracasso com grande gasto de dinheiro e o que deveria elevar o prestígio do prefeito levou-o ao fundo, a imprensa montou em cima, tanto pelo fracasso quanto em razão do gasto elevado. No outro dia a mesma coisa, três dias de agonia.

No ano seguinte tentaram colocar tapumes, porém foi ruim, bem ruim, porque agora o uivo-vaia ficava mais fino, mais agudo, chegava a doer os ouvidos, alguns desmaiaram, não sei se de frescura ou imitação, alguns chegaram a sangrar. Foi duro. Colocaram médicos, não adiantou.

No terceiro ano foi ainda pior. Parecia que os morros estavam querendo se vingar, o troço todo desandou de vez.

Nem houve quarto ano, o palco está lá enferrujando, a cobertura está caindo, ninguém quer passar nem perto.

Serra, terça-feira, 26 de junho de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário