A Inocência
Aprisionada
Estando no Conselho
de Sentença do Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça do ES em Vitória participei
do julgamento de um certo R por um crime que aconteceu em 1996, quando tinha 19
anos (estando em 2004 com 27 anos). Fugiu, foi achado, ficou três dias (contra
a lei) incomunicável no Quartel da Polícia Militar, provavelmente apanhando.
Em tese teria matado
Nego Deo com quatro tiros, mas a arma, um 38, não foi achada. A vítima tinha se
envolvido com tráfico de drogas, era estuprador e fazia já jovem, na ocasião
com 22 anos, todo tipo de estripulia, tendo sido perseguido dias antes por dois
policiais que nele atiraram, matando um garoto e atingindo-o no braço. Seu
corpo foi achado no último píer de Camburi com uma perna amarrada numa pedra
num 12 de outubro, em meio ao Vital, carnaval fora de época de Vitória. Poderia
o presumido assassino, R, tê-lo amarrado antes de atirar, com sua anuência,
talvez? Ou teria amarrado o corpo DEPOIS DE MORTO? Não faz sentido. O mais
provável é que os policiais o tenham pegado bêbado estuprando alguém e o tenham
assassinado por volta das doze horas, a perícia tenho chegado às quatorze.
Sugeriram ter sido ele amarrado pela perícia para as ondas não o levarem, mas
isso é improvável, pois as fotos mostravam o sangue na areia (se as ondas
tivessem batido a água teria apagado as marcas).
R confessou, e mesmo
sendo negada pelo júri sua culpa foi condenado a seis anos, porque houve acordo
da juíza, do promotor e do advogado de defesa no sentido de pular as duas
perguntas iniciais da quesitação (o conjunto dos quesitos; a palavra não existe
no Houaiss), o que induziu a falsa unanimidade do júri.
Disse ter atirado em
ND (as fotos mostravam os quatro disparos no lado esquerdo do rosto). Como o
promotor afirmou (e o advogado de defesa não aproveitou), a marca de pólvora no
rosto indicava que foram tiros dados de perto, enquanto R dizia que tinha
brigado e tinha atirado de longe. Se assim fosse o primeiro impacto teria
empurrado a cabeça e os outros três tiros não teriam acertado. Não, ele estava
deitado no chão, com a cabeça na areia, porisso os quatro tiros puderam ser
alinhados e houve somente algum respingo nas pedras próximas, enquanto se
estivesse de pé teria respingado em toda parte, em leque, pois foi atingido no
pescoço. E não foi assassinato por encomenda, como afirmaram, porque os
matadores profissionais, em razão da lógica, atiram primeiro no corpo para
garantir a imobilização e na cabeça para garantir a morte.
Claro, não foi R,
foram os policiais, depois acobertados, dado que R só foi preso três meses
depois, jovem e inexperiente, sem a presença de advogado. Não houve perícia
técnica apurada com ângulos de incidência, essas colocações que estou fazendo
ou qualquer aporte para o julgamento correto e preciso. Não foi procurado nem
muito menos achado o vendedor de picolé que R dizia ter estado presente (da
verdadeira briga que teve com ND; ou que foi acrescentado como detalhe para
convencimento), não foi feito trabalho competente, nem neste nem em outros
crimes. Terá sido R? Sei lá, só Deus para dizer, mas as indicações são frágeis
e do que se pôde saber os apontamentos são outros.
São frágeis igualmente os demais
julgamentos. A polícia brasileira (ou, pelo menos, a do Espírito Santo) não é
minuciosa, talvez por não dispor de instrumentos, máquinas, aparelhos e
conhecimento técnicos e orientação científica.
Em todo caso, talvez
um inocente tenha sido condenado.
Vitória, domingo, 12
de dezembro de 2004.
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