domingo, 27 de agosto de 2017


O Eterno Domingo do Aposentado

 

                            Devido à maneira como a família foi estabelecida lá nas origens, o homem não tem mais nada que fazer depois de aposentado; não há netos de que se deva cuidar, nem casa para limpar, nem as tarefas todas que ainda competem às mulheres – e estas enviam os aposentados para fora de casa, de modo que eles, rodando e rodando dentro de casa como baratas tontas, não deixem ninguém tenso.

                            Então, em vez de ter como antes apenas o domingo e agora o domingo e o sábado livres ele tem sete dias por semana, o mês todo, 365 dias por ano durante - com a longevidade atual - 20 ou 30 ou mais anos, para as aposentadorias precoces. Não admira nada que passados os primeiros meses da sensação de libertação tantos voltem a trabalhar, para não cair em prostração e morrer, como acontece com uma parte.

                            Pois antes havia a rotina, tão detestada enquanto era obrigatória, depois saudosa; havia a obrigação de ir para o trabalho. Depois de aposentados os dias se tornam compridos demais e os homens vão jogar damas, baralho e bocha, e beber, conversar por aí, qualquer coisa para fazer o tempo passar. Como a maioria nem sabe ver filmes (ou não têm dinheiro parar alugá-los), fora aqueles que passam de graça na TV aberta, o tempo que sobra todo dia é excessivo. As mulheres encomendam pequenos trabalhos inúteis, os homens resmungam e vão – isso não foi bem estudado, nem muito menos exaustivamente em todas as culturas, por exemplo, em livros de APOSENTADORIA COMPARADA.

UMA SÉRIE DE PROVIDÊNCIAS (que podem ser tomadas por governos espertos)

·       Prefeitura aposentada;

·       Re-escolarização (bem planejada, com metas válidas e não por qualquer besteira) dos aposentados e das aposentadas;

·       Uma pilha de tarefas (leves, é claro), remuneradas ou não;

·       Conversar com as crianças, os jovens, os adultos;

·       Coisas que eles sugerirão.

O fato é que os governempresas, que sugaram a força e a vitalidade dessa gente, depois disso a abandonam, e não deveria ser assim.

                            Vitória, domingo, 30 de janeiro de 2005.

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