O Eterno Domingo do
Aposentado
Devido à maneira
como a família foi estabelecida lá nas origens, o homem não tem mais nada que
fazer depois de aposentado; não há netos de que se deva cuidar, nem casa para
limpar, nem as tarefas todas que ainda competem às mulheres – e estas enviam os
aposentados para fora de casa, de modo que eles, rodando e rodando dentro de
casa como baratas tontas, não deixem ninguém tenso.
Então, em vez de ter
como antes apenas o domingo e agora o domingo e o sábado livres ele tem sete
dias por semana, o mês todo, 365 dias por ano durante - com a longevidade atual
- 20 ou 30 ou mais anos, para as aposentadorias precoces. Não admira nada que
passados os primeiros meses da sensação de libertação tantos voltem a
trabalhar, para não cair em prostração e morrer, como acontece com uma parte.
Pois antes havia a
rotina, tão detestada enquanto era obrigatória, depois saudosa; havia a
obrigação de ir para o trabalho. Depois de aposentados os dias se tornam
compridos demais e os homens vão jogar damas, baralho e bocha, e beber,
conversar por aí, qualquer coisa para fazer o tempo passar. Como a maioria nem
sabe ver filmes (ou não têm dinheiro parar alugá-los), fora aqueles que passam
de graça na TV aberta, o tempo que sobra todo dia é excessivo. As mulheres
encomendam pequenos trabalhos inúteis, os homens resmungam e vão – isso não foi
bem estudado, nem muito menos exaustivamente em todas as culturas, por exemplo,
em livros de APOSENTADORIA COMPARADA.
UMA
SÉRIE DE PROVIDÊNCIAS
(que podem ser tomadas por governos espertos)
·
Prefeitura
aposentada;
·
Re-escolarização
(bem planejada, com metas válidas e não por qualquer besteira) dos aposentados
e das aposentadas;
·
Uma
pilha de tarefas (leves, é claro), remuneradas ou não;
·
Conversar
com as crianças, os jovens, os adultos;
·
Coisas
que eles sugerirão.
O fato é que os governempresas, que
sugaram a força e a vitalidade dessa gente, depois disso a abandonam, e não
deveria ser assim.
Vitória, domingo, 30
de janeiro de 2005.
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