As Tensões das
Pós-Cavernas
Como disse Sartre, o
coletivo não vive de “SE”, vive somente do que é efetivamente mostrado;
promessas vazias não servem à humanidade.
Não temos em nós,
como base, mais do que foi ofertado sucessivamente pelos primatas, pelos
hominídeos (que foram um acréscimo àqueles) e pelos sapiens neandertais de EMAY
(Eva Mitocondrial + Adão Y). Por sua vez, estes estão no vértice de um cone que
se abre: 1) como cavernas ocupadas; 2) como pós-cavernas resolvidas; 3) como
pré-cidades estabelecidas; 4) como cidades criadas, a primeira das quais,
segundo os arqueólogos e até agora, Jericó, em Jerusalém, no Mar Morto.
Como já vimos,
qualquer conjunto foi, é ou vai ser tão grande quanto os problemas que resolveu,
resolve e resolverá, seja ele PESSOA (indivíduos, famílias, grupos ou empresas)
ou AMBIENTE (cidades/municípios, estados, nações e mundos). Nós só pudemos
crescer porque houve uma base neandertal nas pós-cavernas, naqueles grupamentos
que saíram das cavernas e começaram a construir fora. A humanidade nasceu ali,
enquanto projeto de engenharia, enquanto engenhar; vindo daí a necessidade de
os engenheiros todos estudarem aquelas situações, tanto como base-pessoal
quanto como base-ambiental.
Pois também
dependemos das tensões que sofremos, já que elas nos fazem mirar longe em busca
de soluções. E como as soluções que os das pós-cavernas arranjaram fundamentam
tudo que estamos fazendo hoje, é certo que elas favorecem ou comprometem nosso
modo de ser; dizendo de outro modo, ainda temos dentro de nós os arrojos ou
atrevimentos, as vergonhas ou acanhamentos, as vontades ou ambições dos
pós-cavernícolas. Pensamos como eles pensavam, só que com muito maior
sofisticação; e desejamos como eles, só que em volume dilatadíssimo. É claro,
você está sentindo, tanto quanto eu ou mais, a urgência de saber mais a
respeito daquela gente, porque as ânsias ou náuseas deles ainda borbulham
dentro de nós. Elas estão brotando lá dentro e conduzindo nossos passos dia
após dia. Cada descuido civilizado que temos, o pós-cavernícola dentro de nós
grita suas necessidades “brutais”, descorteses.
Se não entendermos o
que essas fases passadas estão pedindo seremos menos felizes do que poderíamos,
porque estaremos indo contra a nossa natureza; não que tenhamos de atender
tudo, porque não seria por derivarmos dos animais que nos comportaríamos como
eles – um pouco mais longe que isso fomos.
Vitória,
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005.
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