quinta-feira, 31 de agosto de 2017


As Tensões das Pós-Cavernas

 

                            Como disse Sartre, o coletivo não vive de “SE”, vive somente do que é efetivamente mostrado; promessas vazias não servem à humanidade.

                            Não temos em nós, como base, mais do que foi ofertado sucessivamente pelos primatas, pelos hominídeos (que foram um acréscimo àqueles) e pelos sapiens neandertais de EMAY (Eva Mitocondrial + Adão Y). Por sua vez, estes estão no vértice de um cone que se abre: 1) como cavernas ocupadas; 2) como pós-cavernas resolvidas; 3) como pré-cidades estabelecidas; 4) como cidades criadas, a primeira das quais, segundo os arqueólogos e até agora, Jericó, em Jerusalém, no Mar Morto.

                            Como já vimos, qualquer conjunto foi, é ou vai ser tão grande quanto os problemas que resolveu, resolve e resolverá, seja ele PESSOA (indivíduos, famílias, grupos ou empresas) ou AMBIENTE (cidades/municípios, estados, nações e mundos). Nós só pudemos crescer porque houve uma base neandertal nas pós-cavernas, naqueles grupamentos que saíram das cavernas e começaram a construir fora. A humanidade nasceu ali, enquanto projeto de engenharia, enquanto engenhar; vindo daí a necessidade de os engenheiros todos estudarem aquelas situações, tanto como base-pessoal quanto como base-ambiental.

                            Pois também dependemos das tensões que sofremos, já que elas nos fazem mirar longe em busca de soluções. E como as soluções que os das pós-cavernas arranjaram fundamentam tudo que estamos fazendo hoje, é certo que elas favorecem ou comprometem nosso modo de ser; dizendo de outro modo, ainda temos dentro de nós os arrojos ou atrevimentos, as vergonhas ou acanhamentos, as vontades ou ambições dos pós-cavernícolas. Pensamos como eles pensavam, só que com muito maior sofisticação; e desejamos como eles, só que em volume dilatadíssimo. É claro, você está sentindo, tanto quanto eu ou mais, a urgência de saber mais a respeito daquela gente, porque as ânsias ou náuseas deles ainda borbulham dentro de nós. Elas estão brotando lá dentro e conduzindo nossos passos dia após dia. Cada descuido civilizado que temos, o pós-cavernícola dentro de nós grita suas necessidades “brutais”, descorteses.

                            Se não entendermos o que essas fases passadas estão pedindo seremos menos felizes do que poderíamos, porque estaremos indo contra a nossa natureza; não que tenhamos de atender tudo, porque não seria por derivarmos dos animais que nos comportaríamos como eles – um pouco mais longe que isso fomos.

                            Vitória, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário