segunda-feira, 28 de agosto de 2017


O Relógio e os Ciclos

 

                            No livro O Significado da Relatividade (A Teoria Relativista do Campo Não-Simétrico), 2ª edição, Coimbra, Armênio Amaro, 1984, p. 10/1, Einstein diz: “Pode definir-se esta associação por meio de um relógio, comparando a ordem dos acontecimentos fornecidos pelo relógio com a ordem da série considerada de acontecimentos. Entendemos por relógio, qualquer objeto que forneça uma série de acontecimentos que possam ser contados, e tenha outras propriedades sobre as quais falaremos mais tarde”.

                            Quando pensamos em relógio visualizamos em geral um relógio analógico circular, no qual os ponteiros vão apontando (dois ou três ponteiros: um para horas, outro para minutos e eventualmente um terceiro para segundos) – números e disso pode ter advindo a idéia de tempo circular. Poderíamos perfeitamente ter colocado uma linha contínua e um carrinho que fosse apontando para frente indefinidamente os números seqüenciais (isso nos daria idéia de tempo linear), contudo tal processo seria bastante incômodo, levando-nos até vários quilômetros adiante. Um relógio analógico de parede de 20 cm de diâmetro tem circunferência de 2Πr = 2 x (3,141592...) x 10 = 62,8 cm, pouco mais de meio metro. Como cada dia tem 24 horas (a cada hora o ponteiro dos minutos dá uma volta completa) você pode imaginar que é bem econômico proceder assim, porque num dia já ultrapassaríamos 15,1 m – num ano seriam 5,5 km e numa vida de 70 anos 385,6 km. Foi muito esperto e conveniente colocar num círculo e os números próximos da circunferência. Roda e roda e está sempre no mesmo lugar, mas isso dá idéia de tempo circular. Se tivesse sido escolhida a solução da linha teríamos firmado a idéia do tempo linear.

                            Na realidade ele não é nem um coisa nem outra, é um tique-taque contínuo, é um ponto no encontro dos três eixos coordenados que marcam o espaço. Não é comprimento, nem em linha nem em círculo, porisso é errado falar em “linha do tempo” (embora de fato linha = TEMPO, na Rede Cognata). Que linha seria essa? A da contagem, porque o tempo é sucessão. Se ficasse batendo sempre no mesmo ponto nunca saberíamos que o tempo estaria passando. Tempo é CONTAGEM, sucessão de eventos – esse é o tempo natural, que é comum a todos. O tempo artificial, dos seres racionais, é o tempo-racional, o tempo-convencional, o tempo-psicológico, que na Terra é o tempo-humano. Este tempo nós convencionamos, estabelecemos convenção.

                            Veja os relógios digitais: eles substituem o círculo ou a linha (que nunca foi usada, porque ninguém aceitaria ir correndo atrás do tempo) por números, que tem orientação linear na chamada RETA NUMÉRICA, porque os números se sucedem, estão ORDENADOS (o que já sugere linha, gerando um conflito na cabeça das pessoas) e obedecem a uma ordem que conhecemos: 1, 2, 3,..., e assim por diante. Sabemos que 17:32 é mais tarde que 14:08, porque 17 é maior que 14 como hora (pela convenção simbólica e na realidade; incidentalmente 08 é menor que 32, mas isso não conta, porque os minutos de um e de outro estão presos à hora).

                            OUVINDO EINSTEIN

1.       “Ordem dos acontecimentos fornecidos pelo relógio”, negrito e itálico meus;

2.       Ordem da série considerada de acontecimentos”, idem;

3.      Comparação.

Evidentemente não são os acontecimentos que são fornecidos pelo relógio, de modo que ou foi uma tradução imperfeita ou Einstein errou mesmo. O que é fornecido pelo relógio é a ORDEM. Então, deveria estar escrito: “ordem dos acontecimentos FORNECIDA pelo relógio”, pois é a ordem que é fornecida – os acontecimentos são externos ao relógio e não dependem dele.

Do outro lado está a “ordem da série considerada”, quer dizer, o relógio é um batimento (mais ou menos preciso, ou seja, mais ou menos emparelhado – se ele atrasasse ou adiantasse não emparelharia) que COMPARA ou CASA séries, uma a do seu batimento e outra a da realidade. Ele compara os batimentos com os números, fornecendo uma leitura externa.

TRÊS ELEMENTOS

1.       Batida compassada do relógio;

2.       Série de acontecimentos (eles devem estar em série – o universo não pode se mostrar ilógico, porque a sua falta de lógica seria repetida pelo relógio);

3.      Comparador para uso externo (é a saída do computador, a tela de leitura, o mostrador).

Tudo que consiga repetir isso é um relógio.

Satélites (a Lua, digamos) são, o Sol, um punhado de alternativas. Note que nem precisa ser regular, porque meramente você teria um relógio irregular, não muito bom nem fiável.

A chave está em “série de acontecimentos”, ou seja, é exigida uma métrica implícita, o universo não pode ser desordenado – pois se fosse ainda teríamos um batedor, mas não um relógio, quer dizer, ele não forneceria um mapa da realidade: num momento seria três da tarde e no seguinte seria quatro do manhã de dois dias atrás. É por isso certamente que ele fala de “outras propriedades”, porque um relógio, que parece tão simples, de fato mostra a ordem profunda do universo. O relógio fala de CICLOS, de regularidade, de universos regulares.

Vitória, domingo, 23 de janeiro de 2005.

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