O Relógio e os Ciclos
No livro O Significado da Relatividade (A Teoria
Relativista do Campo Não-Simétrico), 2ª edição, Coimbra, Armênio Amaro, 1984,
p. 10/1, Einstein diz: “Pode definir-se
esta associação por meio de um relógio, comparando a ordem dos acontecimentos
fornecidos pelo relógio com a ordem da série considerada de acontecimentos.
Entendemos por relógio, qualquer objeto que forneça uma série de acontecimentos
que possam ser contados, e tenha outras propriedades sobre as quais falaremos
mais tarde”.
Quando pensamos em
relógio visualizamos em geral um relógio analógico circular, no qual os
ponteiros vão apontando (dois ou três ponteiros: um para horas, outro para
minutos e eventualmente um terceiro para segundos) – números e disso pode ter
advindo a idéia de tempo circular. Poderíamos perfeitamente ter colocado uma
linha contínua e um carrinho que fosse apontando para frente indefinidamente os
números seqüenciais (isso nos daria idéia de tempo linear), contudo tal
processo seria bastante incômodo, levando-nos até vários quilômetros adiante.
Um relógio analógico de parede de 20 cm de diâmetro tem circunferência de 2Πr =
2 x (3,141592...) x 10 = 62,8 cm, pouco mais de meio metro. Como cada dia tem
24 horas (a cada hora o ponteiro dos minutos dá uma volta completa) você pode
imaginar que é bem econômico proceder assim, porque num dia já ultrapassaríamos
15,1 m – num ano seriam 5,5 km e numa vida de 70 anos 385,6 km. Foi muito
esperto e conveniente colocar num círculo e os números próximos da circunferência.
Roda e roda e está sempre no mesmo lugar, mas isso dá idéia de tempo circular.
Se tivesse sido escolhida a solução da linha teríamos firmado a idéia do tempo
linear.
Na realidade ele não
é nem um coisa nem outra, é um tique-taque contínuo, é um ponto no encontro dos
três eixos coordenados que marcam o espaço. Não é comprimento, nem em linha nem
em círculo, porisso é errado falar em “linha do tempo” (embora de fato linha =
TEMPO, na Rede Cognata). Que linha seria essa? A da contagem, porque o tempo é
sucessão. Se ficasse batendo sempre no mesmo ponto nunca saberíamos que o tempo
estaria passando. Tempo é CONTAGEM, sucessão de eventos – esse é o tempo
natural, que é comum a todos. O tempo artificial, dos seres racionais, é o
tempo-racional, o tempo-convencional, o tempo-psicológico, que na Terra é o
tempo-humano. Este tempo nós convencionamos, estabelecemos convenção.
Veja os relógios
digitais: eles substituem o círculo ou a linha (que nunca foi usada, porque
ninguém aceitaria ir correndo atrás do tempo) por números, que tem orientação
linear na chamada RETA NUMÉRICA, porque os números se sucedem, estão ORDENADOS
(o que já sugere linha, gerando um conflito na cabeça das pessoas) e obedecem a
uma ordem que conhecemos: 1, 2, 3,..., e assim por diante. Sabemos que 17:32 é
mais tarde que 14:08, porque 17 é maior que 14 como hora (pela convenção
simbólica e na realidade; incidentalmente 08 é menor que 32, mas isso não
conta, porque os minutos de um e de outro estão presos à hora).
OUVINDO EINSTEIN
1. “Ordem dos acontecimentos fornecidos
pelo relógio”, negrito e itálico meus;
2. “Ordem da série considerada de
acontecimentos”, idem;
3. Comparação.
Evidentemente não são os
acontecimentos que são fornecidos pelo relógio, de modo que ou foi uma tradução
imperfeita ou Einstein errou mesmo. O que é fornecido pelo relógio é a ORDEM.
Então, deveria estar escrito: “ordem dos acontecimentos FORNECIDA pelo
relógio”, pois é a ordem que é fornecida – os acontecimentos são externos ao
relógio e não dependem dele.
Do outro lado está a “ordem da série
considerada”, quer dizer, o relógio é um batimento (mais ou menos preciso, ou
seja, mais ou menos emparelhado – se ele atrasasse ou adiantasse não emparelharia)
que COMPARA ou CASA séries, uma a do seu batimento e outra a da realidade. Ele
compara os batimentos com os números, fornecendo uma leitura externa.
TRÊS
ELEMENTOS
1. Batida compassada do relógio;
2. Série de acontecimentos (eles devem
estar em série – o universo não pode se mostrar ilógico, porque a sua falta de
lógica seria repetida pelo relógio);
3. Comparador para uso externo (é a saída
do computador, a tela de leitura, o mostrador).
Tudo que consiga repetir isso é um
relógio.
Satélites (a Lua, digamos) são, o Sol,
um punhado de alternativas. Note que nem precisa ser regular, porque meramente
você teria um relógio irregular, não muito bom nem fiável.
A chave está em “série de
acontecimentos”, ou seja, é exigida uma métrica implícita, o universo não pode
ser desordenado – pois se fosse ainda teríamos um batedor, mas não um relógio,
quer dizer, ele não forneceria um mapa da realidade: num momento seria três da
tarde e no seguinte seria quatro do manhã de dois dias atrás. É por isso
certamente que ele fala de “outras propriedades”, porque um relógio, que parece
tão simples, de fato mostra a ordem profunda do universo. O relógio fala de
CICLOS, de regularidade, de universos regulares.
Vitória, domingo, 23 de janeiro de
2005.
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