Val-sim
E
AÍ DANÇARAM TANTA TRANSA QUE A VIZINHANÇA TODA SE ASSANHOU (da música de Chico Buarque, Valsinha)
Valsinha
Chico Buarque / Vinícius de Morais
Um dia ele chegou tão diferente do
seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra dançar E então ela se fez bonita com há muito tempo não queria ousar Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar Depois o dois deram-se os braços com há muito tempo não se usava dar E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar E alí dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais Que o mundo compreendeu E o dia amanheceu Em paz. |
Ele deve ter sofrido um acidente
qualquer que o fez, no meio da correria para ganhar o uísque nosso de cada dia,
parar e pensar: a boca de cena deve ter três telões postos na vertical, um
passando a vida cíclica dela, outro a vida corrida dele no escritório ou onde
for, tomando condução, o terceiro as brigas dos dois, ele xingando.
Então, nesse dia em especial ele chega
em casa e se põe a olhá-la, ela estranha, ele a toma para dançar, vão jantar
fora, ao cinema, ao baile, “esticam a noite”, como se diz; e ao voltar transam
muito.
Mas no dia seguinte é hora de acordar,
há uma lista de contas a pagar passando numa das telas. As outras duas devem
mostrar em azul a da mulher e em vermelho a dele desde baixo duas faixas, como
se caixas d’água estivessem se enchendo.
Vitória, segunda-feira, 14 de
fevereiro de 2005.
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