quarta-feira, 30 de agosto de 2017


Potencialização das Passagens de ASC

 

                            Como Gabriel quer participar das filmagens (se acontecerem) de ASC, Adão Sai de Casa, faz todo sentido passarmos ponto por ponto cada capítulo, comprando um caderno para anotar as impressões.

                            Por exemplo, ele acha muito plástica a passagem em que Adão entra no console, os fios de luz penetram na cabeça dele e ele vê todas as galáxias e as constelações, todas as evoluções, todo o crescimento das espécies e tudo mesmo que há dentro da parte interna (a nossa metade, dentro do universo em que estamos, digamos) da Criação, pois há uma parte externa, em que Deus está projetando novos universos do Pluriverso.

                            O que significaria essa exponencialização?

                            Seria dilatar exponencialmente cada ponto, transformá-lo numa esfera e depois compactar tudo isso numa passagem pequena do filme. Seria desenvolver e desenvolver cada minúsculo ponto até ter dele total compreensão, total domínio, de modo que todo ele fluísse superlativamente da cabeça do diretor para as emoções do público. Pegar um ponto, multiplicar por 1.000 e compactar em 10, de modo a caber na seqüência. Essa passagem em especial seria superdilatada dentro do espectador, assim como se ele estivesse tendo uma “percepção extra-sensorial” (e é, mesmo, pois vem da cabeça do diretor e do trabalho de muitos outros), uma epifania, uma gravação superior em volume ao que cabe no que é mostrado. Depois, quando o espectador se detivesse subseqüentemente muitas vezes na passagem, ele poderia ver os desdobramentos, se estivesse atento, o que permitira assistir os filmes muitas vezes, sem que ele perdesse o charme, perda que vem do aplainamento pela memória. Olhando e reolhando ele sempre descobriria dimensões novas. Haveria sempre uma dimensão de (1000 – 10 =) 900 para ver e onde procurar.

                            Então, não podem ser quaisquer pontos, porque a escolha criará uma LINHA DE DEMONSTRAÇÃO, aquela do diretor, que pode suplantar ou distorcer a intenção do texto, substituindo-a por outra. A isso se chama FIDELIDADE, a obediência às intenções do autor. Caso não haja fidelidade outras filmagens serão feitas posteriormente e aquela não será a definitiva. O diretor pode achar divertido seguir outra linha, mas esse conflito o distanciará da satisfação do público.

                            Vitória, sábado, 12 de fevereiro de 2005.

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