Tudo Tem um Tempo Certo
O
povo tem ditados, frases feitas, chavões que são guias de vida. Como alguém já
notou, eles se opõem, um desdiz o que outro disse, dão os conselhos mais
estranhos. Seguramente nascem da experiência. Que conhecimentos nos trazem das
eras e de quais geo-histórias emergiram nenhuma tese de mestrado ou doutorado
que eu tenha lido ou de que eu tenha ouvido falar nos diz.
A
Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss, Rio de Janeiro,
Delta, 1993, traz muitos, p.686 a 688, dos quais citarei alguns escolhidos ao
acaso, a título de ilustração:
·
Cada
qual com seu igual
(conformismo de classe de um lado e doutrinação do outro, mas sendo também
conselho para fazer mais fáceis os fluxos de info-controle);
·
Há
males que vêm para bem
(aproveitar as crises enquanto oportunidades de mudança);
·
Querer
é poder (como
informação ou conhecimento, info-controle, é poder, segundo Francis Bacon,
querer é sempre querer IC).
E assim por
diante.
O que está
dentro dos ditados ou provérbios?
Penso que
muita coisa. Coisas profundas.
Por exemplo,
sempre ouvi de minha mãe que TUDO TEM SEU TEMPO CERTO (o que está na música:
“tudo tem seu tempo certo, tempo para amar...”). Tomei isso como uma indicação
de esperar pacientemente que viesse o tempo de realização de cada coisa, ou
seja, a imposição do destino, que é a antiliberdade contra a qual tantos se
bateram, se batem e se baterão. Eu também fui e sou resistente a tais
imposições.
Há, porém,
um outro nível afirmativo, ou seja, de que cada coisa tem UM TEMPO MÍNIMO DE REALIZAÇÃO,
o que não nos é ensinado nas escolas. Quanto tempo empregaríamos para passar
dez peças de roupa? Ou para fazer uma masseira de pedreiro? Ou para escrever um
artigo, ou isto e aquilo? Como já vimos no modelo da caverna, homens e mulheres
têm tempos reativos e operacionais diferentes. O tempo reativo do caçador,
homem, deve ser mínimo, posto que não reagir rápido diante do predador ou para
capturar a presa é ser pego ou perder a oportunidade alimentar, condenando a si
e a sua tribo a carência de proteínas. O da mulher não pode ser instantâneo,
porque as árvores de colheita, o barro de vasos a confeccionar, os ovos a
coletar não saem do lugar. O tempo operacional da mulher, por outro lado, já o
disse, é linear, não tem começo nem fim. Pelo contrário, o do homem é cíclico,
qualquer ameaça de não terminar provoca angústia e aflição.
Então, quais
seriam os tempos certos?
Primeiro
deveríamos saber se é realmente como o modelo propõe. Se for assim, seria
preciso calcular o tempo de cada tarefa. Depois, instruir a uns e outros (não
que os homens não devam fazer “tarefas de mulher”, nem vice-versa, uns e outras
devem conhecer, para melhor se prepararem e para dividirem as dificuldades) em
escolas e fora delas, passando os novos conhecimentos a costumes.
Veja só
quanta coisa pode sair de um “simples” adágio. Pensemos quantas coisas novas
poderemos extrair desses velhos conhecimentos ultracompactados.
Vitória,
segunda-feira, 16 de dezembro de 2002.
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