Tardialidade
Essa palavra não
existe no Houaiss eletrônico, que é o dicionário brasileiro mais completo.
Criei-a para indicar o que tarda, o que demora mais que os outros, o que por
seu ritmo próprio só vai acontecer depois.
Como disse Jesus,
“os últimos serão os primeiros” (se sobreviverem até lá, é claro). Na realidade
é fácil entender porque seria necessariamente assim: os que menos possuem
deverão esforçar-se para compreender não apenas os problemas que os situados em
primeiro e segundo lugares resolveram, mas ainda os de terceiro e quarto
lugares. Assim, há para eles MAIS PROBLEMAS, e como é a resolução de problemas
que dá futuro ou sobrevivência por aptidão ou acúmulo de habilidades, resulta
que os últimos sempre tomarão o lugar dos primeiros.
Em resumo, os de
desenvolvimento tardio acabam por suplantar os demais. Eu disse que suas
“bandeiras” são maiores, isto é, eles têm maiores querências, exigências,
necessidades, como as mulheres em relação aos homens, as crianças em relação
aos adultos, os novos em relação aos velhos, os negros em relação aos de outras
raças, os do Sul em relação aos do Norte, os não-desenvolvidos em relação aos
desenvolvidos. Como as crianças substituem os adultos, os de trás substituirão
os da frente.
Essa “tardialidade”,
a qualidade do que é tardio ou tardo, acaba por se constituir em certa vantagem,
como no caso do Brasil, que por pegar a telefonia, os computadores e a Internet
muito depois dos outros, pôde também pegar o que há de melhor logo de cara.
Essa questão, como
tantas, não tem sido suficientemente estudada pela Academia, as universidades e
institutos em conjunto, o que é uma pena.
Vitória,
segunda-feira, 30 de dezembro de 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário