sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


Tardialidade

 

                            Essa palavra não existe no Houaiss eletrônico, que é o dicionário brasileiro mais completo. Criei-a para indicar o que tarda, o que demora mais que os outros, o que por seu ritmo próprio só vai acontecer depois.

                            Como disse Jesus, “os últimos serão os primeiros” (se sobreviverem até lá, é claro). Na realidade é fácil entender porque seria necessariamente assim: os que menos possuem deverão esforçar-se para compreender não apenas os problemas que os situados em primeiro e segundo lugares resolveram, mas ainda os de terceiro e quarto lugares. Assim, há para eles MAIS PROBLEMAS, e como é a resolução de problemas que dá futuro ou sobrevivência por aptidão ou acúmulo de habilidades, resulta que os últimos sempre tomarão o lugar dos primeiros.

                            Em resumo, os de desenvolvimento tardio acabam por suplantar os demais. Eu disse que suas “bandeiras” são maiores, isto é, eles têm maiores querências, exigências, necessidades, como as mulheres em relação aos homens, as crianças em relação aos adultos, os novos em relação aos velhos, os negros em relação aos de outras raças, os do Sul em relação aos do Norte, os não-desenvolvidos em relação aos desenvolvidos. Como as crianças substituem os adultos, os de trás substituirão os da frente.

                            Essa “tardialidade”, a qualidade do que é tardio ou tardo, acaba por se constituir em certa vantagem, como no caso do Brasil, que por pegar a telefonia, os computadores e a Internet muito depois dos outros, pôde também pegar o que há de melhor logo de cara.

                            Essa questão, como tantas, não tem sido suficientemente estudada pela Academia, as universidades e institutos em conjunto, o que é uma pena.
                            Vitória, segunda-feira, 30 de dezembro de 2002.

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