terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Se a China fosse Capitalista

 

                            Paul Kennedy diz em seu livro (Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993), p. 23: “Em outras partes do mundo em desenvolvimento os aumentos prováveis são quase da mesma magnitude. O total da China pode subir apenas (!) dos 1,13 bilhão de hoje para cerca de 1,5 bilhão em 2025, ao passo que a população da Índia, de crescimento mais rápido, provavelmente passará dos 853 milhões de hoje para cerca de 1,45 bilhão. Levando-se em conta a natureza aproximativa dessas estatísticas, e possíveis mudanças tanto na taxa de natalidade como de mortalidade dos dois países, é concebível que a Índia venha a ter a maior população do mundo em 2025 – pela primeira vez na história escrita”.

                            Consultando o Almanaque Abril 2002 vemos que a população da China era de 1,285 bilhão em 2001, crescimento demográfico de 0,71 % ao ano. A Índia tinha 1,025 bilhão em 2001, taxa de crescimento populacional anual de 1,52 %. A continuar neste ritmo a China iria, em mais 24 anos, a 1,523 bilhão e a Índia a 1,472 bilhão, e estariam tecnicamente empatadas. É claro que tal precisão não faz o mínimo sentido, mas é só para mostrar que a China em tese continuaria na frente. Em tese, porque não faz nem dez anos o crescimento da China era de 0,9 % e não 0,7 %. Já baixou, sem falar que em cinco décadas baixou uns 2,5 %. O da Índia certamente era maior também.

                            O do Brasil, que já foi de 3,1 ou 3,2 % na década dos 1960, baixou a 1,9 % e agora a 1,6 % ao ano no ano 2000. A coisa está despencando.

                            Agora, lembre-se que o Paquistão (população de 145 milhões em 2001) estava unido à Índia na independência conjunta em 1948, enquanto Bangladesh (140 milhões em 2001) se separou do Paquistão em 1970. Juntados os três teríamos em 2001 nada menos que 1,310 bilhão. O crescimento do Paquistão sendo de 2,54 %, em 2025 ele estaria com 265 milhões, enquanto para Bangladesh (com crescimento de 2,09 % a.a.) ficaríamos com 230 milhões. Juntos os três em 2025 teríamos quase dois bilhões de pessoas, muito além da China.

                            É certo que o índice da China diminuirá ainda mais, mas os dos outros três não tanto, porque os dois muçulmanos têm política populacional de crescimento, enquanto a Índia vai indo do seu jeito.

                            Veja que os três são capitalistas, ou passam por ser, enquanto a China é socialista no chamado Caminho das Duas Vias, servindo-se do capitalismo onde é necessário e não-contaminante do poder. Evidentemente na Índia morrem milhões de fome ou centenas de milhões vivem no limiar da pobreza, enquanto a China está crescendo economicamente a mais de 10 % ao ano por mais de 10 anos, desde 1986, sem dar notícias de que vá parar.

                            Os hindus, dada toda a sua religiosidade e o fato de não comerem carne, quase não cometem crimes, ao passo que os chineses, comendo carne e soltos à sua vontade livre são baderneiros. Pesando todos os condicionantes de uns e da outra, pense se a China fosse capitalista quantos estariam vivendo na mais abjeta miséria e quantos estariam morrendo de fome por ano, talvez dezenas de milhões!

                            Publicando em 1993, sobre base de dados de 1992, certamente, portando a 33 anos de 2025, o autor estava pressupondo uma taxa chinesa de 0,86 %, ao passo que já reduziu para 0,71 %, enquanto que para a Índia calculou com base em 1,62 %, quando já caiu para 1,52 %. Desceu 0,15 % num caso e 0,10 % noutro.

                            Veja só como os capitalistas centrais são tendenciosos!

                            E os americanos do Norte que saíram de alguns milhares para 286 milhões em 2001? Vamos supor que tivessem em 1776, ano de sua Revolução, dois milhões de habitantes brancos (vá obter os dados corretos, será ilustrativo), um milhão de índios e outros dois milhões de hispano-americanos do México no que eram os territórios deste então. Total de cinco milhões. Subiu 280 milhões, grosso modo, em (2001 – 1776) 225 anos, crescimento contínuo de 1,8 %, em alguns períodos muito maior a taxa. Acontece que a taxa agora é de 0,89 % ao ano, metade daquela. Nós poderíamos passar sem o que os EUA proporcionaram de bom ao mundo?

                            Para quem o capitalismo é como uma segunda pele, tudo bem, vai-se legal com ele. E os demais, onde os países não percebem bem o que seja o capitalismo e não sabem agir a contento dentro dele? Seria o desastre, como é em tantos lugares.

                            Imagine se a China estivesse crescendo a 1,6 % como o Brasil (iria a 1,881 bilhão em 2025) ou a 3,0 %, como certos países (iria a 2,612 bilhões em 2025)! Os modelos não são iguais e o futuro não é o mesmo para todo mundo. O etnocentrismo americano e europeu, e a tendência de julgar tudo pelos seus padrões, além de ser chocante é uma vergonha para todo a espécie humana.

                            Não faz bem a ninguém imaginar esses cenários restritivos, como fez o Clube de Roma.

                            Lute-se a favor, libere-se a tecnociência de ponta, ajude-se os governempresas das nações, em lugar de ficar tolhendo os demais. Esse é o verdadeiro princípio cristão, que Cristo veio ensinar há dois mil anos e tanto fez pelo Ocidente.

                            Vitória, segunda-feira, 28 de outubro de 2002.

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