Recolhimento da Liberdade
No
dicionário o par oposto/complementar igualdade/liberdade existe mesmo.
Liberdade das elites e igualdade do povo. A presença absoluta de uma é a
ausência absoluta da outra. Mas as duas podem conviver e ser ampliadas
indefinidamente.
Raciocinando
sobre pobreza e riqueza vi que riqueza é relativa, enquanto pobreza é absoluta:
não se tendo uma lapiseira é-se pobre dela, mas a riqueza nunca termina, há
sempre uma acima e uma abaixo, nem que seja potencial, isto é, mesmo para um ser
isolado, sozinho. Do mesmo modo desconhecimento é absoluto e conhecimento é
relativo. E deve-se dizer o mesmo de igualdade e liberdade. A igualdade é
absoluta, não há nem acima nem abaixo, todos se situam no mesmo nível, enquanto
que podemos ser ricos, médios-altos, pobres e miseráveis de liberdade. Existem
até os riquíssimos em liberdade. Com isso os pares poderão ser enfileirados,
como duas listagens, de relativos e de absolutos. É questão de tempo poder
enfileirar os dois grupos, com o quê nosso conhecimento dará saltos
formidáveis.
Ora,
acontece que Deus (do par oposto/complementar Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI),
como a parte consciente da díade, é, por definição, totalmente livre,
absolutamente livre (enquanto a Natureza é absolutamente contingenciada), com o
que, se há só Deus não há qualquer gênero de igualdade POR DEFINIÇÃO. Isto é
outro modo de dizer que ninguém é igual a Deus, nem de longe (o último que
tentou foi condenado a danação eterna, como se sabe).
Porém,
sem liberdade não haveria mundo, não haveria manifestação no plano do real dos
seres todos e de cada um. SE segue que Deus “renuncia” à sua liberdade,
enquanto o mundo existir, para dá-la aos seres, que assim passam a gozar de
livre-arbítrio, de livre-escolha, de caminho por decidir nas encruzilhadas da
Vida geral.
Evidentemente
quem é absolutamente livre, quem é omnisciente, onisciente (todo conhecedor),
quem é omnipotente, onipotente (todo potente), quem é omnividente, onividente
(tudo vê), não precisa de provas construídas. Só pode mesmo ser por amor,
porque o lado do ódio já é conhecido também. O ódio, como falta, é absoluto,
enquanto que o amor é relativo, pode-se ter ou não. É-se rico de amor, etc. Se
Deus dá liberdade (e pode tirá-la), o que ele deseja? O que ele pode desejar dos
seres é a opção pela igualdade, pelo aumento da igualdade (sem renúncia à
liberdade) – É A OPÇÃO CONSCIENTE pela igualdade. Sem essa opção não faz
sentido o mundo existir! Daí que, quando das desobediências, Deus recolhe a
liberdade, quando os seres não conseguem dar provas consistentes de seu empenho
pela igualdade. Segundo as lendas fez isso uma vez e depois firmou pacto,
deixando o arco-íris como sinal de aliança, isto é, reunião com a humanidade.
No entanto, o que temos visto é que uma parte grande da humanidade quer
liberdade só para si, dando provas inequívocas de sua estupidez.
Deus
já conhece tudo de liberdade, não é preciso ensinar-lhe nada. Pelo contrário,
está sempre disposto a ver e ouvir, e de um modo geral perceber, receber as
provas de igualdade (porque, por definição, todos os seres humanos são iguais
perante Deus – e nem poderia ser de outra forma, dado que a infinitude de Deus
cancelaria, levaria a zero qualquer ser, por maior que fosse). É com grande
tristeza que vejo que a humanidade deseja justamente o que não pode ter, a
liberdade como absoluto.
Com
resultado indireto deste texto podemos fazer duplo alinhamento inicial:
ABSOLUTOS RELATIVOS
Natureza Deus
Pobreza riqueza
Desconhecimento conhecimento
Igualdade liberdade
Ódio amor
Daí
que, para os que têm fé, a privação faça todo o sentido, como prova de devoção
total. Mas, Deus propõe que os seres TODOS caminhem e possam caminhar para Si,
para a riqueza de todos, o conhecimento completo, a liberdade máxima que se
pode conseguir, o amor que em estado de perfeição seria aquele incondicional,
de Deus. Aquela liberdade de todos que seria a mais perfeita igualdade. Que
eleva a liberdade com elevação simultânea da igualdade. Infelizmente os atos
humanos não apontam, em geral, salvo as honrosas exceções de sempre, para tal.
Vitória,
quarta-feira, 16 de outubro de 2002.
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