domingo, 8 de janeiro de 2017


Quatro Burguesias

 

                            Como vimos no Livro 12, Duas Burguesias, eu disse lá que sequer existem duas burguesias. Existe uma e só uma, enquanto enfrentamento. Mas, para efeitos didáticos podemos separar em quatro, como diz o modelo: B1, B2, B3 e B4; e quando fizermos isso artificialmente veremos que esses pseudoconjuntos podem ser refinados a ponto de vermos distintamente a mutação diferenciada deles. É claro que são necessários métodos novos, porém é útil empregar recursos em sua descoberta.

                            Na realidade podemos, chamando de A, B, C e D, encontrar AA, AB, AC e AD, depois AAA, AAB, AAC e AAD, e finalmente AAAA, AAAB, AAAC e AAAD, 256 partições para as quatro classes do TER (ricos, médios-altos, pobres e miseráveis). A burguesia, classes A e B, agirá em uníssono, mas os proletários, classes C e D, tenderão, pela alienação, a assumir duas perspectivas diferentes, como pseudopersonalidades socioeconômicas baseadas fortemente em divisão de signos, posturas, gestos, palavras e tudo que permita distinção.

                            Agora, em termos tecnocientíficos e de Conhecimento geral, é útil fazer aquela separação, que não é bizantina, porque a riqueza é de tal ordem que sua relatividade (como já vimos, a pobreza é absoluta, é o não-ter, por exemplo, não ter um quadro de Monet – todos são pobres em algum sentido) admite as separações artificiais, para P&D. Em termos de governabilidade é útil saber quem, detendo o poder, pode manifestá-lo de pronto, e em que medida, ou seja, com qual prontidão e inteireza. Com que pressa Bill Gates pode dispor de seus bilhões? Tê-los empregados em produção é formidável, mas num certo momento pode ser muito mais interessante dispor de espécie, de dinheiro vivo, até papel moeda ou outro intermediador conversível.

Esse raciocínio não serve para os proletários, porque estes devem ver as pseudofrações como uma burguesia só, pois devem enfrentá-la e vencê-la. Contudo, para a própria burguesia faz todo sentido esse fracionamento, pois estudá-lo é o seu modo de enfrentamento. Eu, que prezo mais a esquerda, não deveria falar isso, mas não estaria sendo justo se não o fizesse.

                            Vitória, domingo, 24 de novembro de 2002.

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