Quatro
Burguesias
Como
vimos no Livro 12, Duas Burguesias, eu disse lá que sequer existem duas
burguesias. Existe uma e só uma, enquanto enfrentamento. Mas, para efeitos
didáticos podemos separar em quatro, como diz o modelo: B1, B2, B3 e B4; e
quando fizermos isso artificialmente veremos que esses pseudoconjuntos podem
ser refinados a ponto de vermos distintamente a mutação diferenciada deles. É
claro que são necessários métodos novos, porém é útil empregar recursos em sua
descoberta.
Na
realidade podemos, chamando de A, B, C e D, encontrar AA, AB, AC e AD, depois
AAA, AAB, AAC e AAD, e finalmente AAAA, AAAB, AAAC e AAAD, 256 partições para
as quatro classes do TER (ricos, médios-altos, pobres e miseráveis). A
burguesia, classes A e B, agirá em uníssono, mas os proletários, classes C e D,
tenderão, pela alienação, a assumir duas perspectivas diferentes, como
pseudopersonalidades socioeconômicas baseadas fortemente em divisão de signos,
posturas, gestos, palavras e tudo que permita distinção.
Agora,
em termos tecnocientíficos e de Conhecimento geral, é útil fazer aquela
separação, que não é bizantina, porque a riqueza é de tal ordem que sua
relatividade (como já vimos, a pobreza é absoluta, é o não-ter, por exemplo,
não ter um quadro de Monet – todos são pobres em algum sentido) admite as
separações artificiais, para P&D. Em termos de governabilidade é útil saber
quem, detendo o poder, pode manifestá-lo de pronto, e em que medida, ou seja,
com qual prontidão e inteireza. Com que pressa Bill Gates pode dispor de seus
bilhões? Tê-los empregados em produção é formidável, mas num certo momento pode
ser muito mais interessante dispor de espécie, de dinheiro vivo, até papel
moeda ou outro intermediador conversível.
Esse
raciocínio não serve para os proletários, porque estes devem ver as
pseudofrações como uma burguesia só, pois devem enfrentá-la e vencê-la.
Contudo, para a própria burguesia faz todo sentido esse fracionamento, pois
estudá-lo é o seu modo de enfrentamento. Eu, que prezo mais a esquerda, não deveria
falar isso, mas não estaria sendo justo se não o fizesse.
Vitória,
domingo, 24 de novembro de 2002.
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